Acabou o amor: o falso glamour das startups e a onda de demissões em massa
Tem gente que ainda acha que startup é ir trabalhar de calça jeans, em um prédio bem descolado e colorido com tobogã, piscina de bolinhas e aulas de yoga gratuitas.
Além dessa imagem não ser verdadeira, alguns desses supostos "benefícios" de um ambiente mais descontraído perderam o sentido com o crescimento do trabalho remoto durante e após a pandemia.
Com isso, a relação entre colaboradores e gestores em startups pode estar estremecendo. Por trás da aura cool e do falso glamour que ronda esse universo, tem muita gente virando noites trabalhando, sofrendo de exaustão e pedindo para sair. Ou, então, sendo demitidos da noite para o dia.
Startup é bolha? Se sim, essa bolha está estourando ou já estourou? Isso explica essa onda de demissões em massa?
Hoje, aqui na CoolBox.
Ahn?
Vamos por partes, com calma. Se você nem sabe do que estamos falando, não tem problema nenhum. A gente explica :)
Startup é o nome que se dá a um tipo de empresa que tem a tecnologia no centro das suas soluções com um modelo de negócio escalável, ou seja, um potencial de crescer muito em pouco tempo.
Depois que o negócio passa com sucesso por determinados estágios e provas de fogo, se consolidando no mercado, ela pode desacelerar. No entanto, muitas optam por manter essa essência, investindo em inovação contínua e em métodos ágeis.
"Faça rápido, erre rápido" é um dos lemas.
Você certamente conhece ou já ouviu falar de alguma: IFood, Uber, Quinto Andar, Hotmart, Buser e Descomplica são exemplos de empresas conhecidas que são startups.
Tem um quê de bolha e especulação nesse mercado? Sim, mas acreditamos que a instabilidade faz parte da natureza empreendedora - ainda mais agora, em um cenário de crise política e inflação nas alturas (socorro!).
9 em cada 10 startups fracassam, por diversos motivos que vão desde a gestão até a falta de necessidade do produto no mercado (Product Market Fit): 42% não encontraram seu lugar ao sol por oferecerem produtos ou serviços que não interessam às pessoas (Genome).
Startups que chegaram a ser reconhecidas como unicórnios (avaliadas em pelo menos US$1 bilhão) recentemente tiveram que enxugar de 20% a 30% do quadro de colaboradores.
São muitos os fatores que podem ajudar a explicar esse cenário atual, mas o principal talvez seja o fato de que o mercado de inovação depende de investimentos altos para sustentar os picos de crescimento rápido e uma operação rodando com pouca ou nenhuma entrada de dinheiro em caixa nos estágios iniciais. Como é um capital de alto risco, muitos investidores estão sendo mais conservadores e menos ousados, preferindo colocar dinheiro em renda fixa ou em outros tipos de aplicações.
Diego Godoy, headhunter da muuda.work e top voice do LinkedIn, resumiu a desilusão da seguinte forma: “Muitas dessas startups venderam a ideia de que são lugares quase mágicos. Mas, no fim, são empresas como quaisquer outras, que precisam faturar, pagar seus custos e dar lucro”.
Coração partido no amor dói. No trabalho também!
Alô, é do RH?
Por outro lado, é claro que nenhum fator externo pode justificar uma demissão sem tato e sensibilidade. Ou, pior, uma demissão em massa logo após a empresa investir em uma ação de marca caríssima no programa de maior audiência da Globo - como aconteceu recentemente.
Pois é, pegou mal.
Mas será que existe mesmo uma demissão humanizada? Ou, lá no fundo, somos todos vistos como números nessa sociedade capitalista?
No LinkedIn, já vimos relatos absurdos de pessoas que foram desligadas sem mais nem menos, através de uma ligação do RH, uma reunião no Zoom com outras 500 pessoas ou um simples e seco e-mail. Muitas ficam chocadas por não terem recebido nenhum feedback negativo anterior, ou então por estarem sendo demitidas logo após a contratação ou promoção de cargo.
No caso das startups, isso gera ainda mais estranhamento, já que algumas usam e abusam de um polêmico estilo de gestão: "tem que vestir a camisa, porque aqui somos uma família". Como sempre, o discurso e a prática precisam estar alinhados.
Desligar alguém nunca é uma tarefa fácil. No entanto, é fundamental a empresa ter preocupação com os colaboradores durante todos os momentos de vínculo com a organização, o que inclui também a hora da demissão. O ideal é a organização praticar o desligamento empático e humanizado, também conhecido no mundo corporativo como outplacement, conduzindo o processo de maneira digna e cuidadosa, zelando pela estabilidade emocional de todos os envolvidos naquela relação de trabalho.
Uma empresa que foi apontada como exemplo positivo em sua postura é o Airbnb. No início da pandemia, em 2020, o CEO tomou a difícil, porém quase inevitável, decisão de realizar um corte significativo de funcionários: quase 25% do pessoal.
Para minimizar o impacto, a empresa ofereceu pacotes de indenização, equidade e assistência médica, além de prestar apoio direto na recolocação desses profissionais em outras empresas (Forbes)
Diante deste cenário delicado, uma plataforma colaborativa chamada Layoffs foi criada para conectar pessoas que foram desligadas de seus empregos recentemente em busca de recolocação com recrutadores.
Vale a reflexão: ser humano, gentil e empático não deveria ser nenhum grande diferencial, mas no cenário atual acaba sendo!
Pergunta do milhão: como isso impacta minha marca, negócio ou carreira?
👀 Se você trabalha em startups ou na área de tecnologia, mantenha seus olhos ainda mais abertos e atentos. Estamos passando por um momento de turbulência, com muitas mudanças e especulações.
Não caia nesse papo de "empresa-família" e fique sempre com o radar ligado para boas oportunidades, nutrindo sua rede de contatos profissionais e mantendo seu currículo atualizado.
Não tenha medo e nem pena de trocar de emprego, porque provavelmente a empresa não vai ter essa mesma empatia quando ela precisar cortar custos ;)
Se você tem uma empresa e ainda não se preocupa com o Employer Branding (gestão de marca empregadora), é hora de começar. Uma demissão em massa sem empatia pode fazer a sua marca perder valor. Lembre-se que as pessoas falam, ainda mais agora com toda a facilidade das redes sociais.
Ainda que haja escassez de empregos aqui no Brasil, em algumas áreas também pode haver escassez de talentos e esses bons profissionais podem não querer mais trabalhar em sua empresa.
Isso sem falar no risco de receber vários processos judiciais de uma só vez, o que pode literalmente acabar com seu negócio.
Então tome cuidado - e continue acompanhando o conteúdo da CoolBox, para receber insights como esse que te ajudam a ver e perceber os movimentos na sociedade e no mercado. Estamos por aqui!
Eu poderia emoldurar essa frase:
"100% dos clientes são pessoas. 100% dos funcionários são pessoas. Se você não entende de pessoas, você não entende de negócios."
Simon Sinek
Radar do Futuro-Presente:
Para aprofundar no tema de hoje: "Demissões em massa, dinheiro escasso" (InfoMoney), "Estressado, triste e ansioso: um panorama da força de trabalho global" (HBR)
Eventos: O Festival LED - Luz na Educação, realizado pela Globo, vai acontecer neste fim de semana no Rio de Janeiro para pensar sobre os rumos da educação e suas pontes com a inovação. (PropMark)
Tecnologia: o 5G chegou oficialmente no Brasil (G1)
Vem aí: Netflix pode mudar a publicidade moderna (Meio & Mensagem)
Lá fora: União Europeia aprova regras regulatórias para big techs (InfoMoney)
Eita! Pela primeira vez, Justiça brasileira cumpre mandado de busca e apreensão no metaverso (Exame)