Março é conhecido como o mês das Mulheres.
Enquanto nas redes sociais continuamos vendo aquelas "homenagens" com rosas e bombons que parecem ter saído diretamente de um túnel do tempo, no mundo do trabalho não é tão diferente assim.
Apesar de alguns avanços e conquistas recentes, a sensação é de que estamos andando em círculos, discutindo o óbvio e lutando pelo mínimo - e isso é cansativo.
Estamos cansadas.
Exaustas!
Sim, caso você esteja se perguntando: aqui quem escreve é uma mulher.
Jornada de trabalho infinita
Já que precisamos falar de obviedades, vamos começar reforçando que o machismo estrutural contribui para uma divisão injusta e desequilibrada das tarefas de cuidado com a casa e com outras pessoas da família. Temos dados: as mulheres dedicam 73% mais tempo que os homens às tarefas de cuidado (McKinsey, 2022).
Tempo é um recurso finito e precioso, então essas atividades não-remuneradas ainda afastam mulheres do mercado de trabalho, especialmente as mulheres negras - a interseccionalidade entre gênero e raça não pode ser deixada de lado nessa conversa.
Para a maioria que precisa trabalhar fora para sustentar/complementar a renda da casa, ou para uma minoria que quer fazer isso por outros motivos pessoais, as jornadas triplas acontecem e aí vem a famigerada exaustão.
“Não é exagero dizer que a tripla jornada feminina foi recentemente substituída pela percepção de que as mulheres vivem em uma jornada de trabalho infinita, em que as tarefas domésticas, o trabalho do cuidado e o trabalho remunerado são permeados pela carga mental de ter que gerir tudo isso, constituindo um trabalho que só cessa quando a mulher dorme”, afirma Thais Fabris, fundadora da consultoria especializada em comunicação com mulheres 65|10.
Segundo os mesmos dados da consultoria McKinsey, 42% das mulheres relataram ter sofrido burnout em 2021 (ano de pandemia) – contra 32% dos homens.
À medida em que olhamos para cima na hierarquia das empresas e espaços de poder, a presença de mulheres vai se tornando ainda menor. Não é por acaso.
Girls just wanna have funds
A relação com o dinheiro é outro ponto muito importante nessa discussão e precisa ser um assunto mais confortável para as mulheres, pois esse tipo de acesso proporciona autonomia financeira e liberdade de escolha.
Muitas estão desafiando as barreiras do mercado de trabalho formal, inclusive o desemprego, e criando seus próprios negócios. Sem romantismo aqui, tá? Empreender no Brasil já é um desafio enorme e, para as mulheres, esse caminho é ainda mais longo e cheio de obstáculos: as startups fundadas ou cofundadas por mulheres na América Latina geraram mais receita do que as criadas por homens. Ainda assim, receberam menos investimento em comparação com as empresas fundadas por homens (BCG).
No entanto, o empreendedorismo feminino segue como uma possível (às vezes única) saída, já que há, pelo menos em tese, uma maior flexibilidade nos horários de trabalho, favorecendo a conciliação entre as demandas da vida pessoal e profissional. Da mesma forma, o trabalho remoto também pode ser um dos caminhos para atrair e manter as mulheres em seus empregos!
Pergunta do milhão: como isso impacta minha marca, negócio ou carreira?
A ideia de avanço faz parecer que estamos sempre indo para frente, em uma perspectiva linear. E isso não é verdade, vide todos os retrocessos que também acontecem. Uma projeção do Fórum Econômico Mundial diz que aumentou de 100 para 136 anos o tempo previsto para a equidade salarial ser alcançada no mundo. Além disso, 70% das pessoas desligadas em demissões em massa recentes são mulheres, segundo dados da Layoff Brasil.
O primeiro passo é reconhecer que a desigualdade de gênero ainda é um problema que afeta negativamente a sociedade de forma geral e, consequentemente, as relações de trabalho. O próximo é arregaçar as mangas e fazer o que estiver ao seu alcance para mudar esse cenário. E o esforço não pode parar na contratação. Uma vez dentro da empresa, as mulheres precisam se sentir bem-vindas, ouvidas e respeitadas.
Que tal chamar as mulheres da equipe para co-criar ações e políticas internas para a empresa, com uma remuneração adicional por esse trabalho?
Essas políticas internas devem envolver temas como equidade salarial, combate ao assédio moral e sexual no trabalho e aumento da licença paternidade. Sim, com P mesmo: os pais precisam se envolver bem mais nas demandas dos filhos e as empresas devem fazer parte desse processo.
Que tal apoiar projetos já existentes nesse assunto, ao invés de criar do zero e tentar forçar um protagonismo que não existe?
Uma das maiores referências em empreendedorismo feminino é a Ana Fontes - fundadora da Rede Mulher Empreendedora, que realiza diversos cursos e capacitações gratuitas com o apoio de grandes empresas, como o Google e o Itaú. Para fechar, separamos aqui algumas dicas que ela compartilhou, em seu perfil do LinkedIn, para as empresas que pretendem fazer ações de Dia das Mulheres:
Vai realizar evento do Dia da Mulher da empresa? Convide todas as pessoas a participarem, inclusive a alta direção.
Esse evento contará com palestrantes? Não peça participação gratuita em troca de "visibilidade". Diversidade é sobre oportunidade e pagar por isso de forma justa.
Conte no evento o que a empresa está fazendo (de verdade) para ser mais diversa e mais inclusiva, sem tabus, mostrando o que já é feito e o que ainda falta. Transparência é o nome do jogo.
Diversidade não é uma ação, é uma jornada. É sobre justiça social, mas também sobre inovação, economia e bons negócios.
Eu poderia emoldurar essa frase
“Nenhum país pode florescer verdadeiramente se sufocar o potencial de suas mulheres e se privar da contribuição de metade de seus cidadãos.” – Michelle Obama
Uma novidade para 2023 é que queremos abrir um canal de escuta com você que nos lê. Topa responder umas perguntas rápidas de feedback e sugestões para a CoolBox?
Radar do Futuro-Presente
Uma lista: Os países que garantem licença menstrual por lei (G1)
Uma ferramenta visual: Mapa do Ecossistema de apoio às mulheres brasileiras (IRME)
Uma leitura: Como fazer da sua marca uma aliada das mulheres? (Think With Google)
Uma inspiração: Sororité - rede de investidoras-anjo mulheres que investem em empresas fundadas por mulheres.
Uma notícia boa: Empreendedora brasileira lança projeto de liderança feminina em Harvard (Forbes)
Olá, adorei seu texto com análises sistêmicas super importantes só te a realidade da vida das mulheres no Brasil. Pois é somos diversas e as violências e dominações recaem sobre nossas vidas de forma também diversa. Pena que ainda em muitos lugares a referência é a mulher, no singular. Ah e por falar em visibilidade, seria bem legal você assinar esse texto maravilhoso, para eu poder dar os parabéns a autora, nominando-a. 😊