Especial: Olimpíadas do Conteúdo
As tendências de conteúdo que detectamos nos Jogos Olímpicos de Tóquio
Estamos chegando um pouco mais tarde que o normal, mas o motivo é bom demais: temos a nossa edição especial Olimpíadas de Tóquio 2020. Pesquisamos bastante pra trazer para você o que podemos aprender com os jogos esportivos sobre conteúdo digital. Sabemos que, desde o início, a realização dos jogos é polêmica, num momento em que o mundo tem tantos casos. Infelizmente, a população japonesa não pode usufruir da festa no quintal de casa, mas talvez tenha sido exatamente a falta de público presencial que tenha tornado o conteúdo um grande protagonista desta edição das Olimpíadas. Prepara sua torcida e vem ver quem ganhou nossas medalhas.
Aquecimento
Antes do jogo começar e descobrirmos quem venceu, vale uma contextualização que também nos dá sinais do espírito do tempo.
Os Jogos Olímpicos de Tóquio contam com a participação de cerca de 11 mil atletas de 200 países e territórios. Pela primeira vez na história das competições, em todos os esportes temos representantes femininas. Ah, e as mulheres são 49% do total das delegações dos países. Outro número que também cresceu foi o número de modalidades, são 33, sendo quatro delas estreantes: surfe, skate, escalada e caratê.
As medalhas, cinco mil unidades no total, são feitas 100% a partir de material reciclado obtido de telefones e dispositivos eletrônicos antigos. Foram necessárias 79 mil toneladas de lixo eletrônico para extrair 32 kg de ouro, 3.500 kg de prata e 2.200 kg de bronze.
Apesar de ter havido distribuição de preservativos para as delegações na Vila Olímpica (160 mil unidades), o número foi 1/3 da quantidade distribuída nos jogos do Rio e tem um destino não tão imediato: serem utilizados em campanhas de conscientização na luta contra a AIDS nos próprios países.
Agora sim, vamos aos nossos destaques.
Bronze: Cobertura Multicanal
As TVs não subiram no pódio. Essas são as Olimpíadas com a menor audiência da história em diversos países da Europa e nos EUA. Muitos fatores influenciam esse número, como horários das competições, pandemia e expectativa de medalhas. Mas um fator tem chamado a atenção: o fato das pessoas não estarem acompanhando as transmissões exclusivamente pela TV e não apenas por um lugar. Estas são as Olimpíadas do ao vivo no streaming, dos bastidores no TikTok e do replay no YouTube. Dos comentários no Twitter e das lives no Instagram. No Brasil, por exemplo, a Globoplay tem muito mais horas de transmissão ao vivo que o canal aberto (Globo) e os pagos (SporTV). Em cada canal uma intenção e um estilo de consumir conteúdo.
Prata: Atletas ou Creators?
Quem viu Douglas Souza não tem nem dúvida de que essa medalha é dele. O atleta do volei masculino brasileiro é um símbolo de como são elas, as pessoas que foram representar seus países nos jogos, as narradoras em primeira pessoa do que acontece lá. Elas mostram bastidores, dão informações extras, prestam serviços – compartilhando as datas e horários dos jogos. Assim como no mundo são as pessoas criadores de conteúdo (creators) que ganham mais destaque, relevância e mais engajamento, nas Olimpíadas de Tóquio são atletas-creators em suas redes sociais que tem ganhado nossa atenção. Alguns perfis que sobem neste pódio:
Douglas Souza – ganhou mais de 3 milhões de seguidores no Instagram só durante os jogos. Seu conteúdo tem informações “exclusivas”, mostra bastidores, é espontâneo e engraçado. Não por acaso foi chamado de Juliette das Olimpíadas pelo narrador Galvão Bueno.
Ali Gibson – se o Douglas é Juliette, Ali Gibson é certamente o Gil do Vigor, com toda a sua cachorrada. A jogadora de basquete de Porto Rico usa seu perfil no TikTok pra promover o maior clima de pegação na Vila Olímpica.
Ilona Maher – jogadora da seleção feminina de rugby dos Estados Unidos. Ela é um fenômeno no TikTok e usa a plataforma pra contar de forma divertida a rotina de atleta e aproveitar 'trends’ do app para passar informações sobre o esporte, além de criar conteúdo 100% humorístico inspirado em situações dos jogos.
Melissa Wu – a nadadora australiana também faz sucesso no TikTok mostrando o antes e o depois das competições, curiosidades do Japão e do seu esporte.
Alysha Newman – atleta canadense do salto com vara feminino. Um mês antes dos Jogos Olímpicos começarem ela entrou para o OnlyFans e começou a produzir conteúdo pago por lá. Quem quiser ter acesso aos conteúdos dela precisa desembolsar 20 dólares por mês (cerca de 100 reais).
Rayssa Leal – a skatista brasileira de 13 anos que garantiu uma medalha de prata e fez até dancinha do TikTok enquanto esperava pra competir e fez todo mundo invejar seu preparo emocional.
Ouro: TikTok
Já dava pra desconfiar, né? A rede social que mais cresce nos últimos anos virou também a queridinha de quem foi e de quem assiste às Olimpíadas de Tóquio. Se o streaming melhorou o acesso às competições, o TikTok nos deu acesso aos bastidores e nos levou pra dentro da Vila Olímpica. A BBC definiu o app como o canal extraoficial de bastidores dos Jogos Olímpicos. Na hashtag #OlympicTok você encontra tudo que a Globo não mostra.
Jonathan Hutchinson, especialista em mídia social da Universidade de Sydney, diz em entrevista à BBC que o fenômeno TikTok nos jogos tem a ver com o fato de o app quebrar a mística ao redor de atletas. Se as Olimpíadas nos levam a enxergá-los como semi-deuses, em seus perfis na rede social, ficamos maravilhados e nos apaixonamos com seu lado humano.
Honra e mérito
Para além dos formatos, estilos e canais de conteúdo, vale também reconhecer como as Olimpíadas de Tóquio contribuíram para colocar discussões importantes na mesa. Como saúde mental – com Simone Biles, diversidade e inclusão – com atleta não-binária do skate tendo o pronome de tratamento correto sendo utilizado nas narrações televisivas, Naomi Osaka – tenista e ativista contra o racismo, escolhida para acender a pira olímpica, a abertura do Comitê Olímpico para que, pela primeira vez, atletas pudessem fazer manifestações em favor de causas, sem medo de punição.
Pergunta de um milhão de dólares: como isso impacta minha marca, projeto ou carreira?
Diversas marcas já entenderam que hoje conteúdo digital é sobre como participar das conversas, nos canais em que as pessoas estão, com os temas que fazem sentido pra elas e no tom mais adequado. Inclusive nas Olimpíadas.
Nenhuma marca, por exemplo, deixou de patrocinar a Simone Biles, um sinal forte de que mais importante do que as medalhas são os valores que ela defende e pratica.
Timing é tudo. A Nike tornou a nossa fadinha do skate a grande estrela global de sua nova campanha durante os Jogos Olímpicos.
E um ponto pra gente prestar atenção nos próximos jogos: na Austrália, uma empresa de mídia se juntou a grades marcas para transmitir as competições ao vivo no Twitter. Super possível que num futuro próximo, ao invés de Globo, SBT e Band disputando pela transmissão dos eventos esportivos, estejam redes sociais e grandes marcas querendo ser os grandes veículos de acontecimentos que geram tantas conversas.
Eu poderia tatuar essa frase:
Esta é a geração de atletas-tiktokers. Ou a geração tiktokers-atletas. Não tenho certeza de qual vem primeiro.
— Jonathan Hutchinson, especialista em mídia social da Universidade de Sydney
Radar do Conteúdo – novidades da semana:
Ariana Grande ganha skin e turnê no Fortnite. (Adnews)
LOUD (organização produtora de conteúdo de eSports) contrata skatistas que disputam as Olimpíadas. (GE–Globo)
Uma coisa fez falta nas Olimpíadas: memes. (Splash UOL)
Boicotar grandes marcas nas redes sociais funciona? (@coolhow)
Um GIF vale mais que uma playlist: parceria entre Spotify e Giphy transforma gifs em músicas. (@coolhow)