Internet que amamos odiar ou odiamos amar?: linhas entre diversidades, saúde mental e criação de conteúdo
Ah, a Internet.
Aquela que amamos odiar ou odiamos amar?
Enquanto a atenção se volta para as discussões sobre o avanço da Inteligência Artificial, nós decidimos parar um "cadinho" para perceber que ainda há muitas questões pendentes quanto ao impacto da transformação digital até o momento.
Embora a gente não possa parar esse trem em alta velocidade, nós podemos, pelo menos, puxar conversas que nos ajudem a compreender melhor para onde estamos indo. Hoje, vamos falar sobre um dos nossos assuntos preferidos.
Terra de ninguém?
De certa forma, ainda persiste em nosso imaginário a ideia da Internet dos anos 2000 como a terra da cordialidade: um lugar simpático onde podemos nos conectar com pessoas do mundo inteiro, aprender sobre diversos assuntos e nos divertir com vídeos engraçadinhos. Ha-ha.
Tirando as boas páginas de memes que continuam firmes e fortes, como um respiro para lembrar desses tempos mais leves, hoje a Internet tem se tornado um lugar hostil - tanto para quem consome quanto, principalmente, para quem cria conteúdo.
Arte: @andredahmer
A explosão da chamada “creator economy” ou economia dos criadores vem abrindo um mundo de horizontes e possibilidades, diversificando o cenário digital para que outras vozes e narrativas marginalizadas encontrem mais espaço e reconhecimento.
Seduzidos por essa promessa, muitos chegam e se deparam, nesse mesmo ambiente online, com um verdadeiro campo minado para a saúde física e mental: o ritmo acelerado, a constante comparação e a pressão dos algoritmos, em um caminho tortuoso para buscar monetização e sustentabilidade financeira do negócio.
E haja autoestima para lidar com a superexposição, opiniões não solicitadas sobre a sua vida pessoal e até ataques de ódio :(
Nesta semana, a Verônica do @faxinaboa publicou um desabafo reflexivo pontuando que o trabalho de criação de conteúdo não pode ser comparado à correria de pegar ônibus lotado até o metrô, atravessar a cidade para trabalhar e voltar exausta, ganhando pouco. Por outro lado, ela comenta que o falso glamour pode dar a impressão de que trabalhar com conteúdo é um paraíso das mil maravilhas. Mas não é assim, e muitos criadores de conteúdo estão realmente adoecendo.
É só dar uma olhada nos comentários deste post para ver que isso está longe de ser um caso isolado.
Linha de frente
Pois quem são as pessoas mais vulneráveis a sentir esses impactos negativos? Acertou se você pensou nos grupos sub-representados.
Não por acaso, Verônica é uma mulher negra, que antes faxinava casas e agora faxina ideias, ascendendo socialmente através da Internet e da criação de conteúdo. Ela mudou de carreira, mudou de vida, mas ainda está exausta.
De acordo com um estudo realizado pela Anistia Internacional, a cada 30 segundos uma mulher é atacada no Twitter. As mulheres negras, asiáticas e latinas ou mestiças têm 34% mais chances de serem alvo desse tipo de ataque virtual.
No último dia do WebSummit Rio, a Monique Evelle subiu ao palco para abordar esse assunto com coragem e propriedade. Monique apresentou outro dado de que as pessoas negras, pardas e indígenas seguem sub-representadas na Internet e ganhando 29% menos que as pessoas brancas (Time to Face the Influencer Pay Gap, 2021).
Monique disse que há uma dificuldade em enxergar o impacto negativo do racismo, xenofobia, transfobia e outros tipos de preconceito na criatividade e na produtividade de quem sofre diariamente com essas questões.
Pertencer a um grupo sub-representado e enfrentar tantas barreiras para ter uma presença online consistente é muito importante para o futuro que desejamos construir, mas pode trazer efeitos preocupantes na saúde mental de quem está nessa linha de frente.
E isso é um problema de todos nós.
Pergunta do milhão: como isso impacta minha marca, carreira ou negócio?
O esforço para criar um ambiente online mais diverso e saudável precisa ser coletivo e envolver principalmente o poder público, as big techs, plataformas de mídia social e as grandes empresas. Esse assunto já está em debate com o polêmico projeto de lei (PL) 2630, conhecido como PL das Fake News.
As empresas e marcas devem apoiar e promover a diversidade, valorizando e potencializando vozes sub-representadas. Não basta convidar pessoas desses grupos para estar em eventos ou participar de campanhas publicitárias - é preciso se engajar verdadeiramente nas causas e pagar adequadamente por isso. Muitas vezes, o orçamento repassado às agências não é utilizado da maneira correta e boa parte do dinheiro acaba ficando nas mãos desses intermediários e não chega de forma equilibrada entre creators brancos e negros, como comentou a Monique durante a palestra.
Enquanto isso, as pessoas físicas também podem contribuir para um ambiente mais saudável, exercitando um bom filtro sobre o que consomem e sendo mais conscientes sobre o que fazem e dizem online.
Por fim, se você cria conteúdo, sinta o nosso abraço com esse texto e lembre-se que não é só você que está passando por angústias e dificuldades.
Você é suficiente; o sistema é que é cruel mesmo.
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