Web Summit Lisboa 2023: nossos destaques dos primeiros dias
Quem nos acompanha pelos nossos perfis no Instagram e no LinkedIn já viu que uma parte da nossa equipe está em Lisboa, no Web Summit, aquele que é considerado o maior evento de tecnologia e empreendedorismo da Europa.
E assim, nós até tínhamos planejado um outro conteúdo para a CoolBox de hoje, mas decidimos aproveitar as informações ainda fresquinhas para fazer um resumo básico do que estamos vendo e ouvindo por aqui.
Bora lá?!
Começando do começo: a cerimônia de abertura
Ao contrário dos outros anos, podemos dizer que a cerimônia não entregou o que se esperava. Ao menos, o que a gente esperava.
Se você não está muito por dentro do que rola nessa área de tecnologia, nós te contamos. É que faltando menos de um mês para o início do evento, o então CEO do Web Summit, Paddy Cosgrave, se demitiu do cargo.
Tudo aconteceu depois de alguns comentários de Cosgrave sobre o conflito no Oriente Médio terem repercutido de forma a resultar no boicote de empresas como Meta, Google e Amazon à conferência. Você pode ler a notícia sobre o ocorrido aqui.
No dia 30 de outubro, o evento anunciou sua nova CEO, Katherine Maher, que deixou o seu trabalho na direção executiva da Wikimedia (instituição por trás da Wikipédia) para assumir o posto.
Durante a cerimônia de abertura, Katherine se posicionou diante do ocorrido dizendo que nenhuma pessoa deveria ser punida por manifestar a sua opinião, e que é a liberdade de expressão que torna possível com que muitas ideias inovadoras se concretizem. Ousada, não?!
Todas essas mudanças, obviamente, interferiram na programação do evento, uma vez que muitos dos speakers (palestrantes) tiveram sua presença cancelada. O resultado foi uma abertura menos impactante do que de costume.
Ainda assim, tanto no painel quanto na entrevista de abertura tivemos uma ideia clara do que nos esperaria nos próximos dias.
E sim, só tem dado ela, a inteligência artificial
Ainda no evento de abertura, Jimmy Wales, o fundador da Wikipédia, se posicionou sobre o assunto. Ele ressaltou a relevância da enciclopédia colaborativa em um mundo em que os conteúdos de redes sociais, como o do perfil de Elon Musk no antigo Twitter, muitas vezes não representam a verdade mais fiel.
Wales também compartilhou suas previsões sobre a IA, afirmando que ainda estamos a duas ou três décadas de presenciar o verdadeiro potencial desta tecnologia devido às complexas questões ainda não resolvidas.
IA e regulamentação
Para Andrew McAfee, um dos principais pesquisadores da MIT Sloan School of Management, “a inovação é uma atividade bastante imprevisível e descentralizada”. Ele afirmou fazer parte do time da “inovação sem permissão”, argumentando o quanto a alta regulamentação pode barrar e/ou desacelerar processos inovadores.
Já o empresário Albert Wenger, sócio-gerente da Union Square Venture, disse que os dois extremos, seja a alta regulamentação ou a falta dela, podem ter impactos tanto positivos quanto negativos.
Ele sugeriu que as pessoas deixem de lado a necessidade de tomar partido de uma coisa ou outra para se aprofundarem na discussão.
IA e a precarização do trabalho
Para a presidente da Signal e pesquisadora ética de IA, Meredith Whittaker, a IA não está apenas substituindo os trabalhadores, mas fornecendo aos empregadores “um pretexto para degradar as condições de trabalho dos trabalhadores que gerenciam esses sistemas de IA”.
Whittaker citou exemplos como Uber e a gig economy - economia baseada na busca por prestadores de serviços por meio apps - em geral para afirmar que embora os políticos e o público em geral estivessem “distraídos pelas promessas brilhantes da tecnologia”, o que realmente estava acontecendo era “a degradação do estatuto de emprego em todo o mundo”.
IA e aprendizagem
Cuidado com a cilada, Bino. Ligamos o sinal amarelo ao percebermos o tanto de afirmações mal embasadas sobre o tema. Em um painel chamado “ChatGPTeacher”, chegamos a ouvir que o ChatGPT pode ser uma ótima fonte de pesquisa na educação quando, na verdade, nenhum de nós sabe quais são as fontes que essa IA utiliza.
Enfim, sentimos muito otimismo em torno da IA, mas poucas reflexões realmente críticas sobre o assunto. Já, já teremos textão do Tiago Belotte, fundador da CoolHow, sobre o assunto.
Mulheres na tecnologia
Há alguns anos, diante da percepção de um público majoritariamente masculuno, o Web Summit criou a comunidade Women in Tech, cujo empenho está em mudar a proporção de gênero nos eventos da marca. Uma das iniciativas para tal é a venda de ingressos por um valor bastante reduzido (150€ o par), o que por si só já demonstra o gap salarial existente entre homens e mulheres na área.
Além disso, a plataforma também capacita mulheres em todo o mundo, promovendo oportunidades de networking, construindo programas de mentoria e nutrindo as mulheres online na comunidade tecnológica.
Em 2023, o evento em Lisboa registrou a participação de 43% de público feminino.Tal como como nos outros anos, também dedicou um lounge com uma programação inteiramente voltada ao desenvolvimento das mulheres na tecnologia, com painéis bem elaborados e cheio de informações embasadas por dados. Alguns destaques:
Obsolescência do aprendizado
Segundo Soumala Sarkar, diretora sênior geral da Accenture, 2.5 anos é o tempo médio de vida de um aprendizado na área de tecnologia. Diante disso, é essencial que as mulheres tenham um compromisso com o lifelong learning (aprendizado ao longo da vida) para que continuem a crescer pessoal e profissionalmente. “Para se manter atualizada, aprenda sobre sua indústria, entenda quais são as tendências para ela”, aconselhou Sarkar, diretora sênior.
Dinheiro e invisibilidade feminina
Entre outras coisas, o painel “Storytelling and social justice through art” (Contação de histórias e justiça social através da arte), conduzido pela jornalista portuguesa Karla Pequenino, discutiu como a arte pode elevar as mulheres na ciência, na tecnologia e no ativismo. Dois quotes que filtramos foram:
“A nossa invisibilidade enquanto mulheres nos deixa de fora de muitas coisas. Os homens estão decidindo tudo sobre nós porque é com eles que está o dinheiro.”
“Quando um homem funda uma empresa ou tem um projeto, ele tende a envolver outros homens com ele. Nós, mulheres, temos que fazer o mesmo. É nosso dever puxar e envolver outras mulheres.”
Karla Pequenino
“Onde estão os homens?”
Fora do lounge, mas ainda sobre o tema, Clara Chappaz, diretora da La French Tech – empresa pública responsável por apoiar o ecossistema tecnológico francês – fez uma provocação em outro painel. O objetivo foi chamar a atenção para o fato de que as discussões sobre questões de igualdade de gênero são geralmente dominadas pelas mulheres, quando, na verdade, deveriam ser assumidas pelos homens também.
E ainda tem mais
Esta CoolBox foi escrita em meio à correria do evento, no vai e vem entre os pavilhões enormes e as mais de 70 mil pessoas que estão aqui. Além dos destaques que já fizemos, também temos muito a falar sobre as pautas de diversidade e inclusão e crise climática, que seguem no nosso radar, mas vão ficar para a CoolBox da semana que vem.
Até lá, fica o convite para que você nos acompanhe em nossas redes!
Para emoldurar e colocar na parede
“Quando a gente fala de tecnologia, é fácil focar na tecnologia, mas o foco precisa ser nas pessoas. Tecnologia para servir as pessoas.”
Robert Opp, do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, sobre o seu trabalho de redução das desigualdades na tecnologia.
Radar do Futuro Presente
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