Dos desinfluencers ao luxo silencioso, será que enfim chegou a vez do consumo consciente?
Alguns caminhos não têm volta.
A Internet é um exemplo disso.
Porém, ao contrário do que se pode imaginar, essa jornada não é linear e nem sempre seguirá o mesmo rumo.
A cultura de influenciadores digitais nas redes sociais chegou, cresceu exponencialmente e agora pode estar alcançando um ponto de saturação, em meio a reflexões maiores sobre crise climática, desigualdade social e a tal da positividade tóxica que muitos desses influenciadores propagam.
Das passarelas aos feeds, tendências recentes como o luxo silencioso e os desinfluencers podem estar indicando um novo caminho no consumo - mais conectado com a realidade.
Menos é mais
Se antes a lógica da ostentação era gritar para ser visto, hoje o luxo pode estar ficando mais silencioso. Para a VOGUE, uma das principais tendências da temporada de inverno 2023/2024 nas marcas de moda é o chamado luxo silencioso. Esse estilo se manifesta em roupas minimalistas, com poucas estampas e sem logos evidentes que identifiquem a marca da peça.
O luxo silencioso busca transmitir uma sensação de elegância discreta, sem exibir de forma chamativa seus produtos. Essa abordagem se concentra em valores como qualidade, atemporalidade e simplicidade, em vez de apenas exibir uma marca famosa como símbolo de status.
Quando aplicado ao design, o conceito de atemporalidade se refere a uma estética que não segue modismos passageiros e é capaz de resistir ao teste do tempo, mantendo-se relevante e atual mesmo após anos. Ao valorizar a durabilidade, o luxo silencioso também desafia a lógica do descartável e pode se aproximar das pautas de sustentabilidade.
Essa tendência também se relaciona ao contexto da crise financeira, já que para algumas pessoas é desconfortável, ou até mesmo constrangedor, esbanjar e ostentar enquanto atravessamos um momento econômico delicado em diversos países. A pandemia é um dos melhores exemplos desse tipo de constrangimento.
Com tanto acesso à informação que temos hoje a um clique de distância, fica difícil defender aquelas pessoas que parecem viver no mundo da lua, totalmente alheias e mesmo insensíveis aos problemas do mundo real.
Ref: a personagem Daphne, da série The White Lotus (HBO)
Não é à toa que narrativas com sátiras sociais sobre milionários e super-ricos estejam em alta e conquistando largas audiências, em séries como 'The White Lotus' e 'Succession' e filmes como 'Triângulo da Tristeza'.
Somente o necessário
Adentrando no terreno das redes sociais propriamente ditas, outra tendência que vem sendo apontada por consultorias especializadas e veículos renomados, como o Dazed e o The Guardian, é a dos "desinfluencers".
Nos últimos meses, a #deinfluencing viralizou no TikTok, com mais de 250 milhões de posts contendo avaliações sinceras sobre produtos, basicamente dizendo com o que você não deve gastar o seu dinheirinho. Tipo, uma mini-geladeira para produtos de skin care? Você realmente precisa disso?
No caso das denúncias de trabalho análogo ao escravo em vinícolas e em grandes festivais de música que saíram recentemente na mídia, os conteúdos que promovem o boicote a essas marcas também podem servir como um bom exemplo de #deinfluencing.
Se o objetivo do marketing de influência é, pelo menos em teoria, usar recomendações pessoais como endosso para vender produtos e serviços, os "desinfluencers" buscam incentivar consumidores a pensarem criticamente sobre suas compras, avaliando suas reais necessidades e os impulsos por trás de cada uma delas. Tem também quem encare essa tendência sob a perspectiva da influência genuína e sem filtro, os "genuinfluencer", capazes de criar uma conexão emocional mais profunda ao se mostrarem como pessoas reais e comuns em suas vidas cotidianas, como visto nessa matéria da Universa UOL.
Como o capitalismo não dorme no ponto e nunca perde tempo, vale questionarmos o quanto isso também não pode já estar sendo cooptado como uma estratégia de marketing ousada para ganhar confiança das pessoas primeiro e, em seguida, vender outro produto. Será? 🤡
Além disso, esse termo não parece ser o mais adequado, já que isso continua sendo um tipo de influência, no sentido original da palavra, que se refere à capacidade de afetar o pensamento, comportamento ou decisão de outras pessoas.
Pergunta do milhão: como isso impacta minha marca, carreira ou negócio?
A proposta desta edição de hoje na CoolBox foi conectar duas tendências bastante atuais, através de um fio condutor que é o consumo consciente. Como já comentamos em diversas outras ocasiões, os consumidores estão mais atentos e exigentes, buscando marcas que compartilhem valores de sustentabilidade e responsabilidade social como fator de decisão de compra.
No entanto, é importante reconhecer que o consumo consciente ainda está restrito a grupos privilegiados com poder aquisitivo para consumir e com poder de escolha, que possam levar em conta outros critérios além do preço mais baixo.
Sabemos também que tem muito mais discurso (gogó) do que prática (mão na massa), mas, ainda assim, acreditamos que esse é o tipo de movimento necessário e bem-vindo para esse futuro que estamos co-criando diariamente.
Por aqui, preferimos manter uma postura de realismo esperançoso, como nos ensina o grande mestre Ariano Suassuna.
Eu poderia emoldurar essa frase:
"O otimista é um tolo. O pessimista, um chato.
Bom mesmo é ser um realista esperançoso."
- Ariano Suassuna, artista plástico e escritor pernambucano.
Radar do Futuro-Presente
Sinal verde para mais golpes? WhatsApp libera pagamentos com cartão de débito e crédito no aplicativo (TechTudo)
Queremos: venda de carros elétricos e híbridos cresce 55,5% em Março (Poder360)
I.A: Na China, órgão regulador propõe regras para sistemas de inteligência artificial similares ao ChatGPT (Época Negócios)
A pauta é dinheiro: Banco Central declara que bitcoin, criptomoedas e tokenização são prioridades (Exame)
Opa: Plataforma lança inteligência artificial com respostas sobre investimentos (Valor Investe)
Você faz parte
Podemos pedir um minuto do seu tempo para dar o seu feedback sobre a CoolBox? Queremos ouvir sua opinião e super aceitamos: qual tema você gostaria de ver por aqui?