Força, guerreira! Mais um Dia Internacional da Mulher
Quinta-feira, 7 de março de 2024.
Em algum lugar do mundo, uma empresa prepara uma festa que inclui a entrega de flores e uma aula de automaquiagem para as suas colaboradoras. Em outro, cartões decorados com textos sobre a “magia” de ser mulher são confeccionados. Centenas, quiçá milhares de mensagens com gifs, brilhos e música brega estão sendo resgatadas dos telefones para serem disparadas pelo Whatsapp com um “Parabéns pelo Dia da Mulher”.
Enquanto isso, também em algum - ou vários lugares - do mundo, uma mulher será questionada sobre os seus planos em relação à maternidade em uma entrevista de emprego. Outra receberá uma carta de demissão por ter acabado de se tornar mãe. Outra terá que abandonar os estudos para cuidar dos filhos ou de algum familiar doente. Outra terá uma bolsa de financiamento para sua pesquisa científica negada. Outra passará a ser invisibilizada apenas por ter entrado no grupo das 40+.
E assim vivenciamos mais um dia Internacional da Mulher.
Apesar de a data nos fornecer incontáveis possibilidades de falar sobre a barra que é ser mulher em pleno 2024, mesmo apesar dos ~ inúmeros avanços ~, na CoolBox de hoje falaremos daquelas que se relacionam diretamente à nossa razão de existir: educação e mercado de trabalho.
Somos a maioria no grupo das pessoas que não estudam nem trabalham
O “somos” é porque sim, a CoolBox é escrita por uma mulher.
De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais 2023 do IBGE, quase 7 milhões de mulheres entre 15 e 29 anos não estavam estudando nem ocupadas em 2022. Esse número representa 63,4% dos mais de 10,8 milhões de brasileiros na mesma faixa etária nessa situação. Dentro desse grupo, 4,7 milhões são mulheres pretas ou pardas, enquanto 2,1 milhões são brancas.
Uma das razões primárias apontadas para a retirada dessas mulheres do mercado de trabalho é a responsabilidade com o CUIDADO. Mais de 2 milhões delas declararam que não buscaram trabalho devido à necessidade de cuidar dos afazeres domésticos ou de familiares, conforme a mesma fonte.
Quando o cuidado não resulta em abandono dos estudos ou saída do mercado de trabalho, resulta em sobrecarga. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua) sobre Outras Formas de Trabalho 2022, divulgada pelo IBGE, as mulheres brasileiras que exercem algum trabalho remunerado dedicaram 6,48 horas a mais do que os homens por semana nos afazeres domésticos ou cuidados de pessoas em 2022.
A mesma pesquisa informou, ainda, que 92% da população feminina realiza afazeres domésticos, contra 78% dos homens.
Nos marcadores de raça e classe, a discrepância fica ainda maior. Mulheres negras dedicam uma média de 27,6 horas por semana a afazeres domésticos, enquanto mulheres brancas gastam 24,2 horas semanais nessa mesma atividade, quase dez horas a mais do que os homens. Ou seja, estamos falando praticamente de um emprego de meio período após uma semana de trabalho de 40 horas.
Leia também: Discutindo o óbvio e lutando pelo mínimo: as mulheres no mercado de trabalho em 2023
Parênteses: quem cuida de quem cuida?
De acordo com a pesquisa “Esgotadas”, do Think Olga, o trabalho de cuidado sobrecarrega principalmente as mulheres de 36 a 55 anos (57% cuidam de alguém) e pretas e pardas (50% cuidam de alguém).
A sobrecarga cobra um preço que as mulheres vêm pagando há anos. Mas depois daquela que foi considerada a maior crise de saúde pública do mundo nos últimos anos (aka pandemia de Covid-19), os números são ainda mais assustadores. De acordo com a pesquisa “Esgotadas”, do Think Olga, 45% das mulheres entrevistadas possuem um diagnóstico de ansiedade, depressão ou algum outro tipo de transtorno mental.
Diante dos números, fica a pergunta? Quem está cuidando dessas mulheres adoecidas? O que acontece com a mulher que não dispõe de uma rede de apoio. Durmamos com essa!
Quando estudamos, estudamos mais que os homens e, ainda assim, ganhamos menos
Conforme um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a média de estudo das mulheres empregadas é de 12 anos, enquanto para os homens empregados é de 10,7 anos. No entanto, essa disparidade educacional não se traduz em maior representatividade nos cargos de liderança.
Mesmo quando as mulheres conseguem ingressar no mercado de trabalho, as oportunidades de ascensão não são equitativas. Embora ocupem 39,1% dos cargos de liderança, conforme um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a disparidade salarial persiste.
Na academia, não é diferente. Dados do Parent in Science, provenientes da base do CNPq através da plataforma Fala.br, revelam que apenas 36% dos bolsistas de produtividade do CNPq são mulheres, evidenciando um desequilíbrio de gênero persistente ao longo de duas décadas.
Os números evidenciam o quanto o caminho rumo à igualdade de gênero no Brasil é longo e desafiador. Segundo o Fórum Econômico Mundial, se o ritmo atual de crescimento da equidade salarial se mantiver, serão necessários 131 anos para alcançar a igualdade entre homens e mulheres no país.
Parte da esperança de aceleração desse processo está na Lei de Igualdade Salarial entre Homens e Mulheres, promulgada em julho de 2023, motivo pelo qual empresas com mais de 100 funcionários tiveram até o fim de fevereiro para preencher o relatório de transparência remuneratória. Agora, nos resta acompanhar.
Leia também: Igualdade salarial agora é lei... E ainda é só o começo!
Pergunta do milhão: como isso impacta minha marca, carreira ou negócio?
Se você faz parte dos 51,5% da população brasileira, não só entende como vivencia na pele os impactos da dificuldade de conciliação entre os estudos, a vida profissional e o trabalho de cuidado; entende a revolta de ver um homem que desempenha as mesmas tarefas que você sendo melhor remunerado e/ou mais reconhecido; e sabe o quanto é frustrante investir em sua formação pessoal e profissional para que, no fim, um homem receba uma promoção em seu lugar.
E a gente precisa, sim, continuar falando disso para que essas discrepâncias ressoem nos 48,5% da população. Os números apresentados acima não apenas refletem as desigualdades persistentes enfrentadas por nós em diversos aspectos da vida, mas também têm um impacto significativo no mundo do trabalho.
Em primeiro lugar, a falta de representatividade e oportunidades iguais afeta diretamente a dinâmica das empresas. A baixa presença de mulheres em cargos de liderança, aliada à disparidade salarial e à sobrecarga de responsabilidades domésticas, resulta em um ambiente de trabalho menos diversificado e inclusivo. Isso pode afetar a inovação, a criatividade e a tomada de decisões, além de contribuir para a perda de talentos femininos que não encontram espaço para crescer e se desenvolver profissionalmente.
Além disso, as marcas e empresas que não reconhecem e abordam essas desigualdades correm o risco de perder a confiança e lealdade de consumidores que valorizam a igualdade de gênero e a responsabilidade social corporativa. Com um público cada vez mais consciente e engajado, a falta de ações concretas para promover a equidade de gênero pode resultar em repercussões negativas para a reputação e imagem da marca.
Os números apresentados também têm implicações nos negócios como um todo. A desigualdade de gênero afeta a economia de maneira ampla, limitando o potencial de crescimento e desenvolvimento. Mulheres sub-representadas no mercado de trabalho e na educação significam um desperdício de talento e recursos, além de contribuir para o ciclo de pobreza e desigualdade.
Apesar de entendermos essa disparidade como um reflexo das complexidades que permeiam as estruturas sociais e econômicas do Brasil, não podemos deixar de lado a necessidade de políticas públicas que facilitem a conciliação entre trabalho e responsabilidades familiares, como licença-maternidade e paternidade remuneradas, creches acessíveis e flexibilidade de horários de trabalho.
Mas não podemos contar apenas com isso, é essencial que as empresas e marcas reconheçam a importância de promover oportunidades de crescimento e desenvolvimento para a sua força de trabalho feminina. Além de igualdade salarial, flexibilidade e uma política de benefícios que permitam com que as mulheres se sintam acolhidas e respeitadas, a educação e a capacitação também são caminhos.
Aqui na CoolHow, somos especialistas em desenhar experiências transformadoras de aprendizagem capazes de promover a reflexão e a construção conjunta de futuros melhores e para mais pessoas. Se este é o caso da sua empresa, vamos conversar! E acompanhe a gente que em breve traremos novidades também!
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