Menos perfeição, mais equilíbrio: tá tudo bem estar na média!
Quem é você numa entrevista de emprego?
A pessoa que responde que tem o perfeccionismo como qualidade ou como defeito? Bem, a gente espera que nenhuma delas. Mas calma! Não estamos aqui para julgar ninguém. Afinal, todos nós fazemos parte de um mesmo sistema que preza pela excelência em tudo.
Na CoolBox de hoje, fizemos uma costura entre dois temas que nos chamaram a atenção nos últimos meses. De um lado, o fato de os jovens da geração Z estarem menos inclinados ao desejo por posições de liderança. De outro, artigos e livros falando sobre as vantagens de aceitar ser mediano.
Será que estamos vivendo o início de uma era anti-ambição e anti-perfeccionismo?
Vem ver!
O sucesso a qualquer custo já não faz sentido
A maioria de nós cresceu com a mentalidade de que o nosso sucesso estaria intrinsecamente relacionado à nossa progressão de carreira. No entanto, conforme as gerações avançam e novas perspectivas surgem, essa ideia vem sendo questionada e redefinida.
Este artigo da Forbes nos traz alguns dados de uma pesquisa recente conduzida pela CoderPad, plataforma de entrevistas para equipes líderes. Segundo o levantamento, 36% dos profissionais de tecnologia expressaram desinteresse em assumir funções de liderança.
Isso ocorre porque a Geração Z e a Geração Y valorizam mais um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional em comparação com as gerações anteriores. Para esse grupo demográfico, os benefícios não compensam nem as horas extras nem o estresse associado à gestão de equipes em um contexto de incertezas como o que vivemos.
Para a empresa líder em busca de executivos Korn Ferry, citada no artigo, os gestores são frequentemente responsabilizados de forma desproporcional por sua tomada de decisões, o que naturalmente diminui a vontade das pessoas por uma posição de gerência.
A matéria da Forbes cita, ainda, uma pesquisa conduzida pelo think tank Future Forum em 2022 que revelou que os gerentes de nível intermediário são os mais afetados pelo esgotamento no ambiente de trabalho pós-Covid. De acordo com os resultados do estudo, 45% deles relataram sentir-se exauridos.
Menos ambição, mais espaço para estar na média
Um outro artigo que chamou a nossa atenção em janeiro fala sobre as vantagens de aceitar ser mediano em vez de excepcional. E claro, a gente acredita que as duas coisas - falta de vontade de ascender a um posição de liderança e espaço para estar na média - estejam relacionadas.
De acordo com o texto publicado pela BBC, muitos líderes expressam a expectativa de que sua equipe entregue "nada menos que a perfeição" ou que apenas o melhor seja aceitável. No entanto, essa mentalidade desconsidera a importância dos erros como parte do processo de aprendizado e aprimoramento.
Entre outros benefícios, o artigo argumenta que ser mediano mantém a saúde do cérebro, pois, ao aprender algo novo e com o qual não esperamos nos sair muito bem, nosso cérebro desenvolve novas conexões neurais, um processo conhecido como neuroplasticidade. Isso é essencial para manter a saúde cerebral, especialmente à medida que envelhecemos.
Outra referência sobre o assunto vem do livro “Viver é melhor sem ter que ser o melhor: e outros princípios do Arcadismo para os dias de hoje”, do psiquiatra Daniel de Barros. Fazendo uma ponte com conceitos e tendências contemporâneos, como a atenção plena, o minimalismo e a dificuldade de encontrar foco, o autor explora os lemas do Arcadismo, um antigo movimento artístico e literário que exaltava a simplicidade, a moderação e a reflexão.
Leia também: E se pensássemos em decrescer?
Abaixo o perfeccionismo!
Boa parte do texto da BBC também traz à tona os argumentos de Thomas Curran, professor de psicologia e ciências do comportamento da London School of Economics (LSE) e autor do livro "The Perfection Trap", ou “A armadilha da perfeição: o poder de ser bom o suficiente em um mundo que sempre quer mais” na tradução para o português.
Curran questiona o porquê de a sociedade valorizar tanto a excepcionalidade e desvalorizar a ideia de ser "mediano", examinando como o aumento das pressões sociais, culturais e tecnológicas pode estar contribuindo para um aumento nos níveis de perfeccionismo em muitas populações ao redor do mundo.
Ele destaca um aumento significativo no perfeccionismo socialmente prescrito* ao longo dos anos, observando que essa mentalidade pode levar a uma hipervigilância em relação ao nosso desempenho comparado ao de outras pessoas, sem necessariamente levar ao sucesso.
O professor alerta para os efeitos adversos do perfeccionismo na saúde mental, incluindo depressão, ansiedade e burnout, evidenciando a importância de repensar nossas expectativas e abordagens em relação ao sucesso e à excelência. Assim, ele também busca discutir estratégias para lidar com o perfeccionismo e promover uma cultura mais saudável de autoaceitação e aceitação do outro.
*De acordo com o autor, o perfeccionismo pode ser percebido em três dimensões. Perfeccionismo auto-orientado (desejo irracional de ser perfeito, com padrões e critérios próprios de excelência); perfeccionismo socialmente prescrito (a pressão para atender a padrões de perfeição estabelecidos pela sociedade ou por grupos específicos); e perfeccionismo orientado para os outros (que envolve a expectativa excessiva em relação ao que o outro tem para nos entregar).
Pergunta do milhão: como isso impacta minha marca, carreira ou negócio?
Se você respondeu a “muito” na enquete acima, provavelmente já sabe o quanto o seu perfeccionismo começou a ser estimulado ainda na infância. Tal como o próprio Curran afirma no TEDMED 2018, a educação tradicional é a primeira praça onde a medição de performance em métricas, rankings e tabelas de classificações é claramente visível e os números são usados como ferramentas para melhorar o desempenho.
Além de nos levar a uma autocobrança excessiva, o sistema educacional fundamentado na meritocracia, em que apenas “os melhores” são recompensados com bolsas de estudo ou prêmios de honra ao mérito, também nos transmite a crença de que os nossos sucessos e/ou fracassos estão sempre atrelados a fatores individuais e não coletivos.
Outro ponto é que, nesse sistema, as avaliações são baseadas em parâmetros específicos de excelência que nem sempre refletem as diversas habilidades e competências individuais que temos. Essa abordagem tende a desconsiderar as nossas diferentes formas de aprendizagem e ritmos de desenvolvimento, colocando uma pressão desproporcional sobre nós desde cedo.
Ao enfatizar constantemente a busca pela perfeição e pela superação contínua, o sistema educacional tradicional nos leva a acreditar que só seremos valorizados e teremos sucesso se estivermos constantemente no topo da hierarquia acadêmica. Isso cria uma cultura em que o medo do fracasso e a ansiedade pela competição são predominantes. Pense apenas no quanto deixamos de criar, testar e experimentar por medo do fracasso?
Portanto, é essencial repensar os padrões de avaliação e reconhecimento no sistema educacional, buscando valorizar a diversidade de talentos e promover um ambiente mais inclusivo e acolhedor, onde todas as pessoas se sintam valorizadas e capazes de alcançar seu potencial máximo, independentemente de se enquadrarem ou não em um padrão pré-estabelecido de excelência.
Felizmente, muitas empresas e organizações já têm se atentado para a importância de uma educação libertadora. A CoolHow é uma delas. Entre em contato com a gente para conhecer nossas soluções. E fique de olho porque já tem novidade vindo aí. ;)
Para emoldurar e colocar na parede
“Se queremos ajudar os nossos jovens a escapar das armadilhas do perfeccionismo, então vamos ensinar-lhes que, num mundo caótico, a vida vai nos derrubar muitas vezes. E está tudo bem!”
Thomas Curran, psicólogo social, autor do livro “A armadilha da perfeição: O poder de ser bom o suficiente em um mundo que sempre quer mais”
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