Nomadismo digital: crescente, porém transitório - parte 2
Na CoolBox da semana passada, abordamos o fenômeno crescente do estilo de vida que combina liberdade geográfica e trabalho remoto.
Trouxemos informações sobre o livro homônimo que ajudou a popularizar o termo nômades digitais e destacamos estatísticas globais sobre a adoção desse modo de viver. Além disso, mencionamos políticas e incentivos de alguns países para atrair esses profissionais.
Hoje, conforme prometido, vamos falar dos benefícios e desafios do nomadismo digital, que parece tão tentador num primeiro momento, e de como isso pode impactar negócios, carreiras e marcas.
Meu escritório é na praia: os prós
Quando pensamos em alguém que é nômade digital, é quase impossível não fazer a associação com a imagem de uma pessoa trabalhando em um computador à beira da praia. Essa representação é amplamente difundida em posts e matérias encontrados nos mecanismos de busca.
No entanto, as vantagens desse estilo de vida vão muito além da aparência. A possibilidade de viver temporariamente em lugares diversos proporciona experiências enriquecedoras que vão além do turismo convencional. A imersão em novos costumes e tradições favorece o crescimento pessoal e a compreensão global.
Outro aspecto relevante é a economia financeira e de tempo que o nomadismo digital pode proporcionar. Ao evitar os altos custos de moradia e vida nos grandes centros urbanos, assim como longas horas de deslocamento até o trabalho, os nômades têm a possibilidade de desfrutar de mais recursos para investir em suas paixões e projetos pessoais.
Para as empresas que adotam essa modalidade de trabalho, há também benefícios significativos. Os nômades digitais muitas vezes se mostram mais produtivos e engajados, pois têm a flexibilidade de trabalhar em ambientes que os inspiram e motivam. Isso pode resultar em maior criatividade e eficiência nas tarefas desempenhadas.
Meu escritório ERA na praia: os contras
Como tudo no mundo, nem tudo são flores nesse estilo de vida. Afinal, muito daquilo que integra os prós da vida de nômade digital também pode se converter em grandes contras depois de um tempo. É o que lemos neste texto sobre as pessoas que estão desistindo da vida de nômade digital.
Diversos são os fatores que contribuem para essa decisão, como o cansaço constante devido às viagens e as restrições de visto. Afinal, mesmo os países que possuem vistos específicos para nômades digitais podem acabar exigindo pré-requisitos também proibitivos, como a necessidade de comprovação de uma renda mínima, por exemplo.
Ainda na lista de motivadores da desistência, encontramos os seguintes desafios:
A socialização e criação de vínculos mais profundos com outras pessoas;
A criação de uma rotina alimentar e de exercícios físicos;
A busca por infraestrutura: conexão à internet, mobiliário confortável para o trabalho, etc;
Segurança;
Diferenças de fuso horário;
Logística para conciliar trabalho e viagem;
Concentração, gestão do tempo e equilíbrio entre vida profissional e pessoal;
Insegurança financeira.
Durante nossas pesquisas para esta edição da CoolBox, encontramos esse desabafo escrito por Matheus de Souza, um dos nômades digitais mais conhecidos do Brasil, contando o porquê de ter decidido abandonar essa vida.
“Uma coisa que vejo pouca gente falando quando o assunto é nomadismo digital é sobre como o tanto de mudanças (acomodações, cidades, países, fusos) pode nos esgotar fisicamente e mentalmente.
Nos últimos três anos, já com sintomas desse esgotamento, tentei ficar cada vez mais tempo nos lugares; entre 2 e 3 meses, pelo menos. Alguns moderninhos já tem até nome pra isso, slow travel, mas acho que, na realidade, eu desenvolvi nos últimos tempos uma espécie de travel burnout (sim, white people problem demais, mas não muda o fato de eu estar esgotado).”
Matheus de Souza
Também encontramos um fórum de discussões no Reddit onde um dos participantes afirmou acreditar que o nomadismo digital é um estilo de vida viável por um período máximo de três anos.
Olhando para o lado dos lugares que acolhem os nômades digitais, também já é possível apontar muitos problemas, como o aumento dos preços dos aluguéis e serviços e a gentrificação de determinadas áreas das cidades, o que provoca a disparidade de oportunidades entre os seus residentes permanentes e temporários. Lisboa e Medellín são exemplos claros disso.
Pergunta do milhão: como isso impacta minha marca, carreira ou negócio?
Com base nos prós e apesar dos contras mencionados, fica evidente que o nomadismo digital segue em curva de ascensão. Para profissionais autônomos e empreendedores que desejam adotar esse estilo de vida, é crucial obter o máximo possível de informações e compreender os impactos dessa escolha sobre a própria saúde física e mental, além de considerar aspectos burocráticos, como vistos e obrigações tributárias.
É importante ir além das imagens bonitas do Instagram, dos vídeos do TikTok e de quem monetiza esse modo de viver para ouvir diferentes experiências. Poder viajar enquanto trabalha pode ser um sonho, mas poder estar verdadeiramente presente nas viagens, sem se preocupar com trabalho, ainda que com menos frequência, pode ser incrível também.
Os desafios também são significativos para as empresas. O modelo de nômade digital, em que uma pessoa trabalha para um empregador enquanto reside em outro país, pode apresentar entraves relacionados à imigração, impostos e regras de seguridade social em várias jurisdições.
Ao mesmo tempo, a competitividade exige que as empresas estejam cada vez mais atentas às suas políticas de retenção de talentos. Por isso, para que possam se adaptar a essa tendência, é essencial incentivar a autonomia e flexibilidade da equipe de colaboradores, estimulando uma cultura mais flexível e confiante e com uma boa comunicação interna.
Para empresas que ainda não chegaram nesse ponto, se a suposição de que o nomadismo digital é um estilo de vida com prazo de validade for comprovada, eis a possibilidade do desenvolvimento de alguns testes que poderão contribuir para a fidelização de profissionais.
Usando mais a imaginação, poderíamos propor, por exemplo, a criação do “vale nômade digital” como benefício extra, em que licenças não remuneradas poderiam ser substituídas por períodos de dois ou três anos de nomadismo digital para a equipe de colaboradores, com acordos contratuais estabelecidos.
Vamos pensar nisso em conjunto?
Eu poderia emoldurar essa frase
“Nômades digitais: pessoas que adotam um estilo de vida independente de local e com habilitação para a tecnologia passaram de excêntricas para mainstream em menos de uma década.”
Digital Nomads - MBO Partners
Radar do Futuro-Presente
Uma tendência preocupante: mulheres terão os empregos mais impactados pela IA, segundo o relatório da McKinsey Globo
Worldcoin: usuários fazem fila para escanear olhos em projeto de criptomoeda do criador do ChatGPT CNN Brasil
Pesquisadores do MIT criaram uma ferramenta para proteger as suas fotos de manipulação por inteligência artificial TecMundo
Ele ainda bomba: Facebook alcança marca dos 3 bilhões de usuários mensais pela primeira vez Uol E a Meta supera as expectativas e cresce seu faturamento Meio&Mensagem
Nubank chega a 80 milhões de clientes no Brasil e ultrapassa o Banco do Brasil Estadão E recentemente a fintech anunciou sua entrada no setor de viagens TecMundo
Havaianas inaugura primeira loja autônoma e feita com material reciclado em São Paulo Meio&Mensagem
'Fintechzação' chega à Amazon: varejista anuncia cartão de crédito com cashback e anuidade grátis Estadão
Unesco pede proibição global de smartphones nas escolas Uol
Você faz parte
Podemos pedir um minutinho do seu tempo para dar um feedback sobre a CoolBox de hoje? Além disso, queremos a sua opinião: qual tema você gostaria de ver por aqui?