O trabalho remoto voltou a diminuir no Brasil: retrocesso cultural ou ajuste de rota?
Não é só uma impressão sua, nem um palpite nosso: o trabalho remoto está realmente diminuindo no Brasil. Em 2021, mais da metade das empresas (57,5%) adotaram parcial ou totalmente o home office no Brasil, incluindo aquelas que já praticavam o modelo antes da pandemia. No entanto, em 2022 o percentual caiu para 32,7% (FGV).
O LinkedIn apontou uma queda de 39% para 25% das vagas remuneradas com trabalho remoto em apenas um ano.
Retrocesso ou ajuste de rota?
Como podemos falar em escritórios digitais ou em robôs de I.A. "substituindo" o trabalho humano, se ainda estamos nos prendendo a um modelo baseado em controle em vez de confiança? 🙄
Seu escritório é na praia?
Se você já acompanha a CoolBox há mais tempo, sabe que gostamos de começar do começo, contextualizando o tema com definições necessárias. Então, vamos lá: muitas pessoas tratam home-office e trabalho remoto como sinônimos, mas existem diferenças sutis entre os modelos.
Como o próprio nome sugere, o "home-office" é o escritório em casa, enquanto o trabalho remoto pressupõe a liberdade de poder trabalhar de qualquer lugar - em casa ou não, tanto faz. Em resumo, todo home-office é um tipo de trabalho remoto, mas nem todo trabalho remoto é home-office.
O segmento de serviços de Informação e Comunicação é o mais receptivo a esse modelo de trabalho: 89,5% das empresas do segmento adotaram ou já adotavam algum tipo de trabalho remoto em 2021. Atualmente esse percentual caiu um pouco, mas segue acima da média: 74,2% (FGV).
Porém, de forma geral, podemos dizer que o mundo corporativo ainda é muito careta. Os profissionais que optam por um estilo de vida como o nomadismo digital, trabalhando remotamente enquanto viajam, podem ser julgados pelos colegas e superiores que não compartilham dessas mesmas escolhas. (Nessas horas, um fundo de tela desfocado na videochamada pode ser uma boa para evitar comentários e piadinhas.)
Toda relação de trabalho envolve confiança e uma boa liderança precisa ter ferramentas e processos para avaliar as entregas de seus colaboradores, independente de onde a pessoa esteja. Essa ilusão da vigilância para o microgerenciamento, tipo passar atrás da mesa de alguém só para ver o que ela está fazendo ou, pior, pagar por um sistema de software que faz isso à distância (BBC), é parte de uma mentalidade do trabalho já ultrapassada.
Aqui no Brasil, o que vimos na prática foi um home-office sendo implementado a contragosto das empresas, como uma "gambiarra" de pandemia - uma solução improvisada que parece ter sido aceita somente por conta dessa necessidade extrema. Em meio a uma grande crise de saúde que assolou o mundo inteiro, o home-office acabou pagando o pato e sendo injustamente apontado como o culpado, quando na verdade esse período não deveria ser usado como parâmetro para nada.
Viva la vida
Teoricamente, a depender de qual religião você siga (ou não), nós só vivemos uma vez. Nosso tempo é um recurso finito e o mais precioso que temos!
Nesse sentido, não dá para ignorar o fato de que o tempo diário do deslocamento para ir e voltar de um trabalho presencial poderia ser utilizado de várias outras formas bem mais úteis e/ou prazerosas, como dormir, estar com a família, fazer exercícios físicos e cuidar da saúde, enfim. Isso sem falar no fator sustentabilidade, com a diminuição da emissão de gases estufa pelos veículos de transporte, e no fator economia, com a redução de custos operacionais da empresa.
Outra vantagem do trabalho remoto é diminuir a concentração de pessoas vivendo nas grandes cidades e capitais, permitindo que elas escolham morar em outros lugares.
A maior autonomia para a gestão do tempo entre vida pessoal e profissional é também uma aliada na causa da Diversidade & Inclusão, ajudando a manter, por exemplo, as mães no mercado de trabalho e abrindo oportunidades para quem mora fora dos centros urbanos.
Não à toa, uma pesquisa realizada pela Global Workplace Analytics e divulgada pela Forbes, mostrou que o trabalho flexível é inegociável para a maioria dos profissionais: caso a possibilidade de trabalhar de casa fosse retirada, 66% disseram que procurariam outro emprego com flexibilidade e 39% afirmaram que pediriam demissão.
A conta não fecha, né?
O outro lado da força
A gente sabe que a vida não é um morango, nem um mar de rosas.
Todo e qualquer modelo de trabalho tem seus desafios, mas precisamos falar sobre isso abertamente e encarar de frente para assim escolher com quais tipos de problemas preferimos lidar.
Na prática, o trabalho remoto pode sofrer o impacto de dificuldades técnicas, como instabilidades na Internet, fusos horários diversos, além da dificuldade de manter uma rotina em movimento. Já o home-office pode esbarrar em questões como as interrupções por demandas da casa e da família, especialmente em contextos menos privilegiados.
Além disso, sabemos também que esses modelos estão restritos a determinados tipos de trabalho. O estudo da FGV mostrou que o home-office é predominante nas categorias salariais mais elevadas: na pandemia, 63,4% das pessoas com graduação trabalhavam de casa integralmente, número que depois caiu para 30,7%. Já o home office em pessoas que não possuíam ensino médio completo caiu de 24,6%, durante a pandemia, para 12,8% em 2022.
O trauma da pandemia também costuma aparecer como justificativa para a volta ao trabalho presencial, já que essas linhas mais tênues (ou inexistentes) entre vida pessoal e profissional levaram muita gente a um estado de esgotamento físico e mental. O famoso burnoutinho.
Mas vem cá, a responsabilidade desse Burnout é mesmo do modelo de trabalho? Ou é dos gestores e líderes que contratam uma pessoa para fazer o trabalho de cinco e lhe atribuem uma carga de tarefas absurda?
Sinto dizer, mas se você trabalha em um ambiente competitivo que mais parece uma panela de pressão do que um escritório, pouco importa se o trabalho é remoto ou presencial. Ele pode te adoecer da mesma forma.
No fim das contas, será que a gente não devia estar falando menos sobre produtividade e mais sobre saúde?
Afinal, até as máquinas pifam.
Pergunta do milhão: como isso impacta minha marca, carreira ou negócio?
A flexibilidade é uma demanda real e atual, especialmente entre profissionais mais jovens. Portanto, se você pretende atrair e reter talentos para a sua empresa, esse assunto deveria estar no seu radar.
O trabalho híbrido, com alguns dias presenciais e outros de home-office, vem acenando como uma possível solução intermediária, mas ao mesmo tempo parece reforçar a crença de que "não há nada como o olho no olho", além de dificultar a centralização da comunicação em um lugar só e favorecer ruídos.
Para o trabalho remoto realmente funcionar, isso precisa fazer parte da cultura da sua empresa, ao lado de valores como transparência e autonomia. Essa cultura também precisa conter outras diretrizes de cuidado e respeito com os colaboradores, até como forma de prevenção do Burnout.
Pense que, com o dinheiro economizado em estrutura, deslocamentos e outras despesas do trabalho presencial, a sua empresa poderia investir em ações de fortalecimento da cultura corporativa, como encontros anuais de imersão e planejamento.
Como mensagem final, podemos dizer para todo mundo, independente do seu cargo ou área: se for possível para você, dentro da sua realidade material e circunstâncias, busque fazer com que o seu trabalho caiba na sua vida, nunca o contrário.
Leia de novo, se precisar.
Eu poderia emoldurar essa frase:
“Ter mais controle sobre horários de trabalho permite que os funcionários trabalhem durante as horas em que se sentem mais concentrados, resultando em maior produtividade."
- Frank Weishaupt, CEO da Owl Labs
Radar do Futuro-Presente
"Designing your career": um conteúdo online e gratuito da Universidade de Stanford para direcionar suas escolhas profissionais!
Utilidade pública: o canal de denúncias 180 agora funciona no WhatsApp, exclusivamente para mulheres vítimas de violência doméstica em busca de informações e orientações.
+ Novidades: Google lança o selo 💜 para empreendimentos femininos, através do Google Meu Negócio.
Oportunidades: inscrições abertas para o Prêmio Empreendedor Social do Ano, realizado pela Folha (até 30/04) e para o Prêmio Melhores ONGs 2023 (até 12/05).
Para inspirar o feriadão: uma fala do Pepe Mujica sobre a vida ser mais que só trabalho.
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