Só acredito vendo (ou nem assim): o crescimento do DeepFake e outras formas de manipulação digital
Dizem que a Internet trouxe a era da pós-verdade.
Diversas narrativas e pontos de vista passaram a conviver em um mesmo espaço, diminuindo o peso que os jornais e a mídia tradicional sempre tiveram em relação à opinião pública.
Isso é bom, por um lado. Por outro, faz aumentar a necessidade de uma educação digital que nos permita identificar a veracidade de uma notícia.
Sim, o tema da Newsletter de hoje não é por acaso.
Estamos no 2º turno das Eleições presidenciais no Brasil e não é difícil fazer a previsão de que o número de notícias falsas circulando nos grupos de "Zap" irá aumentar bastante daqui pra frente.
Continue lendo porque esse é um tema muito importante para todos nós.
Paint para que te quero
Pois é, podemos dizer que as fake news (notícias falsas) são um dos grandes problemas do nosso século digital. E a má notícia é que as fábricas de fake news podem contar com tecnologias cada vez mais sofisticadas para a produção de seus materiais mentirosos, usando estratégias digitais de disparo em massa e sincronizando ataques que visam descredibilizar a ciência e a imprensa.
Estamos falando agora de um próximo nível desse problema: o deepfake. Deepfake é uma tecnologia que usa Inteligência Artificial (IA) para colocar, digitalmente, o rosto de uma pessoa em outra, sincronizando seus movimentos e até a voz.
Com ela, é possível inserir um áudio ou um vídeo falso para uma pessoa aparecer dizendo algo que nunca disse, por exemplo. Pessoas públicas costumam ter bastante material online e disponível na Internet, o que facilita na hora de montar um conjunto de áudios e imagens que serão usados como base para a manipulação digital.
A gente sabe que talvez você sinta medo e um certo arrepio na espinha vendo isso. Sim, é compreensível. Mas continue com a gente, porque a ideia aqui é te mostrar referências e informações que podem te equipar para lidar melhor com essa realidade!
Vamos lá. Quem é das antigas aqui na Internet, deve lembrar do momento que vivemos o auge das "montagens". A graça era ser tosco mesmo, geralmente feito no Paint ou algum programa do tipo.
A vantagem do visual tosco é que geralmente fica na cara que é montagem, brincadeira e que não deve ser levado a sério. Mas vale pensar que o Photoshop é capaz de manipular imagens (alô, indústria da beleza) e a gente já convive com isso há bastante tempo. Portanto, o que o deepfake parece estar inaugurando é uma sofisticação tecnológica dessas práticas, que chegam à terceira dimensão e agora passam a ser capazes de simular vozes e vídeos.
Um caso bizarro que a gente leu foi de uma mulher que sofreu um golpe amoroso internacional. Ela conheceu virtualmente uma pessoa que estava se passando por um médico famoso da Turquia, que chegou a usar um software deepfake para mudar sua aparência em uma videochamada com ela AO VIVO, a partir de imagens reais desse tal médico (a história completa está na revista Piauí, aqui).
-> Leia também: CoolBox - os golpes digitais estão vindo com tudo!
Por outro lado, com consentimento expresso e boas intenções, as tecnologias deepfake também podem ser usadas de outras formas menos sombrias: o ator Bruce Willis, por exemplo, está afastado da TV e do cinema em Hollywood por conta de uma questão séria de saúde.
Com essa tecnologia, Willis vendeu seus direitos de imagem e apareceu em um comercial sem nem pisar no set de filmagem. E ficou satisfeito com o que viu: “Gostei da precisão com que meu personagem ficou. Para mim, é uma grande oportunidade de voltar no tempo”, disse ele.
Outros exemplos interessantes do uso dessas tecnologias:
O projeto "Dalí Lives", no qual foram utilizadas centenas de imagens do artista espanhol Salvador Dalí para criar, por meio de machine learning, vídeos dele para um museu.
Em parceria com o MIT, a Unicef criou um site chamado "Deep Empathy". A ideia é que as pessoas façam o upload de fotos de suas cidades, para o sistema realizar uma fusão dessa imagem com registros de uma região bombardeada na Síria, resultando em uma imagem sintética de como esse lugar ficaria caso passasse por algo assim.
Tem também esse clipe do Kendrick Lamar, em que sua imagem vai se transformando no rosto de outros homens negros como o Kanye West, Will Smith e Kobe Bryant.
Ingenuidade digital
O objetivo dessa CoolBox de hoje é fazer uma humilde contribuição contra o que estamos chamando de "ingenuidade digital" por parte de alguns. Para esse período eleitoral, mas não só, nossas dicas são:
-> Por mais difícil que seja, resista ao impulso de compartilhar conteúdos absurdos para comentar algo em cima.
Sabe aqueles "personagens" bizarros que volta e meia surgem no cenário político? Eles rendem tantos memes e comentários que acabam ganhando espaço e ainda desviam o foco dos assuntos mais importantes.
Prefira tirar um print ao invés de compartilhar o post em si. O algoritmo do Instagram, por exemplo, não vai diferenciar comentários negativos de críticas ou positivos de apoio. Para ele, é tudo engajamento e o alcance de um post pode aumentar exponencialmente depois de receber muitos comentários e compartilhamentos.
-> Caso o conteúdo absurdo em questão seja realmente uma notícia falsa ou viole outras regras das plataformas de redes sociais, vá direto no ícone de três pontinhos e procure a opção DENUNCIAR.
-> Antes de compartilhar uma informação, utilize ferramentas de checagem como a "Fato ou Boato", da Justiça Eleitoral, ou a Lupa. Sua credibilidade pessoal entre seus amigos e família tem valor e também pode estar em jogo!
-> Evite cair em provocações nos comentários dos portais e páginas de grande alcance, especialmente se forem contas-robô sem foto, com poucos seguidores ou outros sinais de que podem ser perfis falsos.
Não vale a pena.
Eu poderia emoldurar essa frase:
"Nós precisamos falar sobre como as coisas são representadas. Assim, ninguém será mais pego de surpresa. Precisamos fazer com que esse debate se torne algo rotineiro e com grande alcance em todos os setores da sociedade".
Martin Eikmeier - coordenador acadêmico da Academia Internacional do Cinema e especialista em som.
Radar do Futuro-Presente
Sobre o tema: Spotify adquire empresa que ajuda a detectar conteúdo nocivo (Forbes)
Inspiração: Nubank cria "Páginas Roxas", para clientes anunciarem seus negócios de forma gratuita (Meio & Mensagem)
Mercado: o guia salarial da Robert Half para 2023 (baixe aqui)
Mundo digital: Tim Cook, CEO da Apple, questiona a utilidade do metaverso para pessoas comuns (Forbes)
ESG - Diversidade & Inclusão: XP lança processo seletivo exclusivo para pessoas com deficiência (Fast Company Brasil)