Entra ano e sai ano e as manchetes de janeiro seguem mais ou menos as mesmas. Na editoria de finanças, a abordagem gira em torno do choque de realidade com a chegada dos boletos de IPTU e IPVA e a compra de material escolar. Na de cultura, matérias sobre os esquentas para o Carnaval em diferentes estados. Na de viagens, imagens das praias lotadas e dados de afogamentos e acidentes rodoviários.
Nas notícias quentes, informações sobre “tragédias” provocadas pelas chuvas em diversos pontos do país. Infelizmente, taí uma coisa que é tão certa quanto as músicas da Simone nos meses que precedem janeiro.
Nem bem o ano começou e, no que diz respeito ao meio ambiente, 2024 já vem dando pistas de que promessas sinceras não interessam. Depois de 2023 ter sido o ano mais quente da história, com muitos eventos climáticos extremos, como a seca na Amazônia e os fortes temporais no Rio Grande do Sul, os desastres estão aí para provar que nem tudo se finda à meia noite do último dia do ano.
E não bastasse a ansiedade com as contas, com o Carnaval e com o movimento das estradas, agora lidamos com uma ansiedade cuja duração vai muito além de janeiro: a ansiedade climática. Isso mesmo, a edição da Coolbox de hoje vem discutir sobre como o contexto de clima e meio ambiente tem afetado a nossa saúde mental.
Bora entender melhor esse assunto?
Mais uma ansiedade
As notícias sobre desastres naturais - que de naturais não têm nada - têm sido cada vez mais frequentes e nos mostram uma realidade inquietante, mas já prevista por diversos pesquisadores e cientistas nos últimos anos: o desequilíbrio da natureza em razão do aumento das temperaturas e dos padrões climáticos.
Como causas e efeitos das mudanças climáticas, esta página das Nações Unidas menciona o combo geração de energia (queima de combustíveis fósseis) + fabricação de produtos + desmatamento florestal + uso de transporte + produção de alimento + energia dos edifícios + excesso de consumo.
Como consequência, este artigo da Unicef explica que a crise climática possui impactos que vão desde a frequência de chuvas até a amplitude térmica e a formação das ondas de calor; da quantidade e da intensidade de eventos extremos, como ciclones e queimadas, ao prolongamento de secas extremas.
É óbvio que todos esses fenômenos afetam a vida humana de diversas formas, colocando em risco o bem-estar, o desenvolvimento e a própria sobrevivência de pessoas em todo o planeta. E bem, quando a gente vê a nossa sobrevivência em risco, sabendo que a coisa toda ainda pode dar muito ruim pro nosso lado, o resultado também é óbvio: mais uma ansiedade para lidar na vida.
A ansiedade climática, portanto, pode ser definida como um sentimento de angústia relacionado aos impactos do aquecimento global e dos eventos extremos. Sua presença já vem sendo observada em várias partes do mundo, especialmente entre crianças e jovens. De acordo com este artigo da BBC, as buscas pelo tema em português aumentaram 73 vezes nos últimos 5 anos.
Além do medo, em si, a apreensão em relação às mudanças climáticas tem levado pessoas a compartilharem experiências de dificuldades para dormir, preocupações com o futuro e, em alguns casos, desinteresse e pessimismo com uma perspectiva de longo prazo. Tal angústia tem influenciado, inclusive, importantes decisões da vida, como a escolha de ter ou não ter filhos, por exemplo.
Leia também: E se pensássemos em decrescer?
Feeling Hot Hot Hot
Já dissemos que a ansiedade não vem sem motivo, mas não custa reforçar. Segundo levantamento do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o ano de 2023 se destacou como um dos mais quentes da história do Brasil desde a década de 60.
Em quatro meses consecutivos, de julho a outubro, as temperaturas ficaram acima da média histórica, sendo que setembro apresentou o maior desvio (diferença entre o valor registrado e a média histórica) desde 1961, com 1,6°C acima da média histórica no período de 1991/2020.
Ao longo do ano, o Brasil enfrentou nove episódios de ondas de calor, reflexo dos impactos do fenômeno El Niño (aquecimento acima da média das águas do Oceano Pacífico Equatorial), que tende a favorecer o aumento da temperatura em várias regiões do planeta. Além disso, outros fatores têm contribuído para a ocorrência de eventos cada vez mais extremos, como o aumento da temperatura global da superfície terrestre e dos oceanos.
Em relação à temperatura global, o ano de 2023 já é considerado o mais quente em 174 anos de medições meteorológicas, superando os anos de 2016, com 1,29°C acima da média, e 2020, com 1,27°C acima da média.
Quem sofre, de fato, o impacto?
De acordo com pesquisa divulgada em dezembro pelo Instituto Pólis e pelo IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), 7 em cada 10 brasileiros/as já vivenciaram pelo menos um evento extremo associado às mudanças climáticas.
Em números absolutos referentes à população do país, a proporção acima equivale a mais de 118 milhões de pessoas acima dos 16 anos. Ainda assim, está claro que o impacto da crise climática afeta a população de maneira desigual, já que as pessoas mais atingidas pelos desastres são as que já sofrem com as desigualdades sociais e econômicas.
Tudo isso é evidenciado neste artigo da Unicef Brasil, que indica que as famílias com menos recursos enfrentam maiores dificuldades para se adaptar às mudanças climáticas, residindo em áreas mais propensas a desastres e sendo as primeiras a sofrer as consequências das crises socioambientais, incluindo seus impactos econômicos secundários.
Em situações de calor extremo, as famílias economicamente desfavorecidas enfrentam desafios adicionais, como a falta de acesso a ventilação adequada e, ainda mais, a sistemas de ar-condicionado.
Períodos de secas prolongadas e inundações têm impactos diretos na captação e distribuição de água, resultando em interrupções e deficiências nos serviços, o que pode comprometer não apenas a qualidade da água, mas também intensificar a propagação de doenças transmitidas por meio desse recurso.
Mas o que a gente pode fazer?
Bom, você já sabe que, mais do que apontar problemas, nós amamos trazer soluções tanto a nível coletivo quanto individual. Assim, seguem algumas referências de páginas para você acompanhar e, claro, se engajar também!
No site Brasil pelo Meio Ambiente, podemos acompanhar diversos projetos de empresas que compartilham práticas de preservação ambiental e sustentabilidade.
ONGs como o WWF e o Greenpeace, com iniciativas super úteis para transformar planos e ações.
O projeto Vozes do Oceano articula uma expedição que atua no combate à poluição plástica dos oceanos.
Para as empresas, este artigo do SEBRAE traz dicas para tornar os negócios mais sustentáveis por meio do uso eficiente de água e energia e o correto gerenciamento dos resíduos sólidos, por exemplo.
Num campo mais individual, aquilo que nós crescemos ouvindo: economizar água; procurar consumir mais produtos biodegradáveis e menos industrializados; separar os nossos resíduos para a coleta seletiva e reciclar materiais; utilizar mais transportes coletivos ou adotar a prática da carona solidária; rever a forma como consumimos e de quem consumimos; e por aí vai.
Pergunta do milhão: como isso impacta minha marca, carreira ou negócio?
As mudanças climáticas estão exercendo uma influência profunda em nossas vidas, desencadeando não apenas desastres naturais, mas também uma ansiedade climática crescente. O ano de 2023, marcado por temperaturas recordes, ondas de calor e eventos extremos, destaca-se como um alerta claro sobre a urgência de ações coletivas e individuais.
Diante disso, projetos de preservação ambiental, iniciativas de organizações não governamentais e práticas cotidianas sustentáveis são passos cruciais para mitigar os impactos físicos e emocionais dessas mudanças. Contudo, também é preciso reconhecer que governos e empresas desempenham papéis cruciais na reversão desse quadro.
Para as empresas, a consequência direta de um não posicionamento reside no fato de que as preocupações ambientais já estão a influenciar as decisões de compra de boa parte dos consumidores. De acordo com o relatório “O que interessa aos consumidores quando se trata de sustentabilidade”, da Deloitte, em um futuro próximo, um em cada dez consumidores tomará uma decisão de compra com base na disponibilidade de dados sobre a pegada de carbono daquele produto, por exemplo.
Confirmando essa tendência, diversos artigos, como este da revista Exame, também destacam que os investidores estão cada vez mais incorporando as políticas de ESG como um elemento essencial na avaliação de empresas, especialmente durante processos de fusão e aquisição. A importância atribuída às práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) reflete uma crescente demanda de investidores, consumidores e outros stakeholders por responsabilidade corporativa.
…
Deseja obter mais informações sobre estas e outras tendências? Melhor, deseja saber como aplicá-las ao seu negócio? Entre em contato com a gente. Estamos prontos para fornecer insights e orientações que ajudarão a navegar pelos desafios e oportunidades associados ao tema.;)
Para emoldurar e colocar na parede
“Esse tipo de angústia fala de uma realidade e a solução não é tratar a angústia por si só ou diminuir os sentimentos de ansiedade com remédios. Mas sim dar espaço para falar como o aquecimento global é um fenômeno social que precisa ser mitigado.”
Nina Reckziegel, psicóloga e integrante do movimento Eco pelo Clima
Radar do Futuro-Presente
Mulheres falam sobre futuro do trabalho, da IA e da inclusão em Davos Forbes
E por falar em pautas de gênero, prazo para as empresas enviarem relatórios salariais começou na última segunda-feira (22/01) Poder 360
Uma completa transformação. O que acontece quando as escolas banem os smartphones?(EN) The Guardian
Apenas 30% das posições em cargos digitais e tecnológicos no Brasil são ocupadas por mulheres. Dados são da pesquisa "Cargos Tech e Digital 2023", realizada pela empresa de consultoria Mercer Terra
Sinais dos tempos nos filmes indicados aos Oscar. 'Anatomia de uma Queda' discute a verdade em tempos de cancelamento Folha de São Paulo
Um ranking que relaciona países e o tempo médio que suas populações passam em frente às telas. Spoiler: a América do Sul está na frente. Smartick
Ei, queremos te ouvir!
Você tem um minutinho para dar o seu feedback sobre a CoolBox? Também estamos aceitando sugestões: quais temas você gostaria de ver por aqui?