Líderes narcisistas: como são e no que impactam?
Piscamos e já é dezembro. A essa altura, você aí do outro lado deve estar se dividindo entre as entregas que precisam ser feitas antes que 2024 chegue, a compra de presentes e lembrancinhas para a família ou algum amigo secreto e as confraternizações de fim de ano.
Entre as diferentes confraternizações, estão elas, as protocolares festas da firma. E a gente fala desse jeito porque sabe que, para quem trabalha em uma empresa, muitas vezes elas não passam de uma convenção a ser seguida. Mesmo porque, não é nada legal performar normalidade e celebrar o fim de ano com aquela liderança que até parece se preocupar com você, mas não enxerga nada além dela mesma. Quem já teve uma liderança assim?
O papo da Coolbox de hoje é sobre isso. Vamos pensar sobre o ambiente das empresas e suas lideranças. Sabemos que quem lidera tem suas decisões constantemente avaliadas e que liderar também não é tão simples. Por outro lado, o que fazer quando líderes extrapolam os limites do egoísmo e da vaidade, atuando de maneira narcisista?
Líderes narcisistas. Você já ouviu falar sobre isso?
O mito de Narciso
O termo narcisista vem do mito de Narciso, uma história da mitologia grega que envolve o personagem Narciso, um jovem conhecido por sua extraordinária beleza. A narrativa conta que, ao se deparar com sua própria imagem refletida na água de uma fonte, Narciso ficou completamente fascinado por sua beleza e se apaixonou pela própria imagem.
No entanto, ao perceber que não poderia alcançar ou tocar a figura refletida, ele se consumiu de tristeza e desespero, permanecendo fixado na beira da fonte até sua morte. Do local onde Narciso morreu, nasceu uma flor chamada narciso, representando a fragilidade da vaidade e a perda causada pelo amor próprio excessivo. Assim, o mito de Narciso é frequentemente utilizado como uma alegoria para a vaidade e a autoadmiração desmedida.
Narcisismo e saúde mental
Atualmente, na área da saúde, o mito de Narciso é utilizado para definir a condição psiquiátrica transtorno de personalidade narcisista, que, conforme a equipe do portal Dráuzio Varella explica neste artigo, provoca no indivíduo um padrão generalizado de grandiosidade (sentimento de superioridade em relação às outras pessoas), com necessidade constante de atenção e adulação, além de falta de empatia.
O artigo também explica que os sinais e sintomas do transtorno de personalidade narcisista variam de acordo com a sua gravidade. Trouxemo a lista apresentada pelo Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5), da Associação Americana de Psiquiatria, segundo o qual o padrão se caracteriza por ≥ 5 dos seguintes:
Uma sensação exagerada e infundada da sua própria importância e talentos (grandiosidade);
Preocupação com fantasias de realizações ilimitadas, influência, poder, inteligência, beleza ou amor perfeito;
Convicção de que são pessoas especiais e únicas e devem associar-se apenas com pessoas do mais alto calibre;
Necessidade de admiração incondicional;
Uma sensação de merecimento;
Exploração das outras pessoas para alcançar objetivos próprios;
Falta de empatia;
Inveja das outras pessoas e convicção de que as outras pessoas as invejam;
Arrogância e altivez.
Além disso, os sintomas devem ter ocorrido no início da idade adulta.
Agora diz, você conhece alguém assim?
Reconhecendo um narcisista
Ainda no artigo do portal Dráuzio Varella, Erlei Sassi, coordenador do Ambulatório Integrado de Transtornos de Personalidade e do Impulso do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPq – USP) esclarece que, em um primeiro momento, o narcisista aparenta pouca diferença uma pessoa comum.
No entanto, independentemente do contexto, essas pessoas odeiam não ser o centro das atenções, seja na hospedagem de um hotel ou nas reuniões de família.
Neste outro artigo, o psicólogo José Elías Fernández, membro do Colégio de Psicólogos de Madri, explica que pessoas com perfil narcisista tendem a viver fora da realidade durante a maior parte do tempo.
“Seus conceitos errados sobre suas capacidades os colocam em um mundo de fantasias e de poder sobre os demais. A única coisa que fazem, com a esperança de alcançar o sucesso a todo custo, é enganar a eles mesmos e aos demais”.
José Elías Fernández, psicólogo
Ao longo do texto, ele enumera 7 traços psicológicos do narcisismo que um narcisista nunca admitiria. Entre eles, estão a baixa ou nula capacidade de escuta, a necessidade de mentir e de esconder seus defeitos a todo custo, o vício em controle e o fato de serem oportunistas, relacionando-se apenas com quem pode lhe trazer benefícios.
Sinal amarelo: atenção com os diagnósticos da internet
Falando assim, até parece fácil diagnosticar alguém com transtorno narcisista, mas não é tão simples De acordo com a psicóloga Erika Saab, é preciso que uma pessoa tenha todos os critérios para receber o diagnóstico, mas algumas possuem apenas traços, o que também já pode ser um dificultador do convívio. De toda forma, é fundamental que o diagnóstico seja dado por um especialista.
O perfil narcisista no contexto do trabalho
Em ambientes competitivos, como os das empresas, lideranças com perfil narcisista podem exercer um impacto devastador. Neste artigo, Birgit Schyns, PHD em psicologia e autora de dezenas de artigos científicos sobre o tema, conta que líderes narcisistas tendem a superestimar o valor de suas contribuições, buscando constantemente destaque e atenção e sendo pessoas proativas apenas para promover a própria imagem.
Além disso, tratam de forma diferente as pessoas percebidas como aliadas para sua carreira. Sua abordagem é egoísta e muitas vezes ultrapassa limites éticos, pois não considera as consequências de suas ações sobre as pessoas.
Aí você se pergunta: mas como esses profissionais conseguem emprego? E bem, pessoas com esse perfil são muito boas em falar de si mesmas, certo? E é o que Schyns explica: elas tendem a ser muito atraentes para as empresas em um momento inicial, mas suas ações no dia a dia podem impactar na saúde mental dos demais e até na produtividade da organização.
No artigo Shady strategic behavior publicado na revista Academy of Management, a psicóloga apresenta sete indicadores para identificar se sua liderança ou colega de trabalho possui características narcisistas. Confira:
Apropria-se de crédito até por realizações não efetuadas: Exagera sobre sua contribuição em projetos ou para a organização, reivindicando crédito que não condiz com a realidade;
Demonstra proatividade apenas para autopromoção: busca incessantemente ser o foco das atenções, direcionando suas ações para ressaltar suas qualidades, conquistar reconhecimento e avançar em sua carreira;
Tem dificuldade de receber feedback: torna-se uma pessoa agressiva ao receber críticas negativas, dificultando a mudança de comportamento, pois desvaloriza a fonte das críticas;
Faz discriminação de valor entre os colegas: Trata de maneira diferenciada membros valiosos da organização, privilegiando líderes e pessoas influentes em detrimento de outras;
Tenta controlar ou minimizar a influência de outras pessoas: busca constantemente controlar e limitar a influência dos colegas para evitar que roubem seu destaque;
Tem o egoísmo como característica predominante: prioriza benefícios pessoais em todas as ações no ambiente de trabalho, sem considerar as consequências para as demais pessoas;
Não tem limites éticos: toma decisões ousadas e arriscadas, sem se deixar restringir por limites morais ou regras da organização.
Pergunta do milhão: como isso impacta minha marca, carreira ou negócio?
Já ficou fácil de entender que lidar com pessoas com traços narcisistas no trabalho é desafiador, não é? Quando pensamos em trabalho em equipe, a situação também é complicada. Por não terem limites na busca por reconhecimento, pessoas com esse perfil não veem problemas em mentir, sabotar o trabalho alheio e culpar as demais por seus fracassos. Também tendem a explodir quando contrariadas, ridicularizando outras pessoas.
Em relação à liderança, as atitudes egoístas de líderes narcisistas impactam toda a cultura das empresas. Neste artigo, a professora Jennifer Chatman defende que não se trata apenas do que a pessoa líder faz, mas da forma como influencia as outras e cria uma cultura que induz e promove atitudes com menos ética e menos colaboração.
Como resultado, o que se percebe são ambientes de trabalho em que, diante da “autoridade” da liderança narcisista, as equipes se veem com pouca ou nenhuma autonomia para propor ideias novas, tornando-se desmotivadas e, muitas vezes, adoecidas.
A médio e longo prazo, tais consequências também influenciarão nos resultados da organização, uma vez que organizações que possuem profissionais com esse perfil também terão mais dificuldade em reter talentos.
Nesse contexto, voltando à fala da PHD em psicologia Birgit Schyns, o papel das empresas é pensar em sua cultura organizacional e entender quais comportamentos devem ser recompensados ou punidos. Além disso, não atribuir responsabilidades que envolvam o gerenciamento de outras pessoas é algo essencial para que esses profissionais não influenciem os colegas. "Se você puder evitá-los, não contrate. Se você os tiver, não os promova", disse Schyns .
Uma outra saída é o desenvolvimento de competências emocionais no ambiente corporativo, já que isso influencia o comportamento e a tomada de decisão das pessoas. E é nisso que a gente acredita. Ao invés da cultura do autoritarismo ou da competição, buscamos construir ambientes mais saudáveis, guiados pela cultura da aprendizagem e da colaboração.
Lideranças precisam ser desenvolvidas e aprimoradas constantemente. Os ambientes corporativos também. Tal como dissemos na CoolBox da semana passada, mais do que nunca, é tempo de olhar para as pessoas. E se você ou sua empresa estiverem precisando de ajuda nesse sentido, conheça aqui as nossas soluções ou fale com a gente. Vamos ter o maior prazer em te ajudar!
Para emoldurar e colocar na parede
“Líderes assim criam um mito ao seu redor. Considere Elon Musk ou Steve Jobs. Talvez inovadores precisem ser um pouco narcisistas? A resposta é não, segundo a professora Jennifer Chatman em um comunicado à imprensa. ‘Você pode ter confiança e ser inovador, e não precisa explorar os outros ou ter excesso de confiança, ou não ser sensível a riscos’, diz ela.”
Trecho da matéria “Entenda como líderes narcisistas contaminam a cultura das empresas”, na Forbes
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