Oi, sumido: e quando o ghosting acontece no meio profissional?
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O silêncio também comunica.
Uma mensagem visualizada e não respondida pode dizer muita coisa, mas já parou para pensar que assim fica a cargo da outra pessoa ter que elaborar sozinha e adivinhar o que está acontecendo lá do outro lado da tela?
A comunicação é a base de todas as relações, inclusive as profissionais. Enquanto nos relacionamentos pessoais tem-se discutido mais a responsabilidade afetiva (ou a falta dela), no contexto do trabalho essas reflexões também cabem e é sobre isso que vamos falar na CoolBox de hoje.
Flw, vlw
Contextualizando: o termo Ghosting vem do inglês Ghost (fantasma) e é geralmente usado em relacionamentos amorosos para definir o comportamento das pessoas que interrompem uma relação simplesmente deixando de responder às mensagens, chamadas e e-mails, ou seja, que somem sem dar notícias ou satisfações.
Algumas pessoas agem dessa forma evasiva para evitar conflitos ou porque não sabem dizer "não", enquanto outras simplesmente nem se importam 😆
Mas como essa prática se aplica às relações de trabalho?
Muitas vezes, o ghosting acontece antes mesmo da pessoa entrar na empresa, ainda na etapa de recrutamento. Em processos seletivos, já tendemos a naturalizar o ato e interpretar o silêncio como um "não" automático: se você não recebeu nenhum contato, é porque não rolou e é vida que segue.
Alô, RH! Mesmo que sejam muitos candidatos por vaga, vamos combinar que um e-mail enviado para todo mundo não dá tanto trabalho assim e é melhor do que nada?
Pior ainda é quando a pessoa já passou por várias etapas do processo seletivo, dedicou tempo, criou expectativas e não foi escolhida. Acontece. Porém, com o funil bem mais reduzido, é elegante e digno tirar uns minutos para dar um retorno personalizado.
Vale comentar que essa situação vale para os dois lados da moeda, já que o ghosting também pode ser praticado por quem está se candidatando a uma vaga. 83% dos empregadores já relataram ter vivido essa situação em algum momento do processo de contratação:
Fonte: Pesquisa Indeed em 2019, traduzida por AlstraTech
Segundo a especialista Malene Rydahl, o ghosting profissional pode estar ligado a um fenômeno de geração, com pessoas que se acostumaram a "arrastar pro lado" os perfis nos sites de relacionamento e acabam agindo da mesma forma no mundo do trabalho.
Esses dados não são específicos do Brasil, então com certeza o índice de desemprego e outros fatores socioeconômicos interferem na questão, mas ainda assim achamos essa pesquisa bem específica e interessante para ilustrar o tema.
Leia também a CoolBox sobre "quiet quitting".
Atenção é cuidado
Aprender a lidar com as frustrações faz parte da vida adulta, mas nem por isso devemos naturalizar esse tipo de comportamento evasivo nas relações profissionais.
Aprender a dizer não, com firmeza e gentileza ao mesmo tempo, é uma arte que deve ser praticada e aprimorada ao longo da vida.
Para empresas que estão buscando promover a diversidade e a inclusão em suas equipes, o cuidado no processo deve ser ainda maior ao lidar com mulheres, pessoas negras, LGBTQIAPN+ e outros grupos sociais minorizados.
Isso porque a baixa autoestima tende a ser mais comum entre essas pessoas, devido a questões estruturais, então elas podem interpretar um longo silêncio como uma rejeição pessoal ou um sinal de desvalorização. Por isso, é importante manter uma postura ainda mais atenta e cuidadosa para que seja possível construirmos relações de trabalho mais saudáveis.
Pergunta do milhão: como isso impacta minha marca, negócio ou carreira?
As empresas que agora reclamam por receber um ghosting podem estar experimentando a mesma sensação ruim que causam em muitas pessoas quando agem da mesma forma com elas. Para que isso não vire um ciclo vicioso, o ideal é não guardar mágoas e se manter firme nos seus valores, como naquela frase que diz "continue dando bom dia, mesmo que não te respondam".
Independente do papel ou do espaço que você ocupe agora, todo mundo deve se esforçar para melhorar sua comunicação, com base em valores como transparência e honestidade.
Vale lembrar que essa situação não se restringe aos processos seletivos e também pode acontecer em relações comerciais. Quantos pedidos de orçamento são sinalizados como urgentes e, depois de enviados, nunca mais foram respondidos?
E quando você faz uma primeira reunião de um projeto ou parceria, com a empolgação lá no alto e várias ideias rolando, envia em seguida uma proposta e depois também não recebe nenhum retorno?
Isso não apenas prejudica a imagem da empresa que não responde, como também é um desperdício de tempo. Outro problema é que muitos bons projetos morrem na praia, antes mesmo de começar, por falhas de gestão e comunicação interna.
Quando questionados, a resposta costuma ser a mesma: "ah, desculpe, sabe como é a correria". Bom, na correria (quase) todos nós estamos, mas usar isso sempre como um escudo para se justificar não é o melhor caminho.
Por outro lado, sabemos que a sobrecarga de tarefas é um problema real e que imprevistos acontecem. Questões de saúde e problemas familiares, por exemplo, costumam ser assuntos mais sensíveis da esfera íntima, e que nem sempre nos sentimos à vontade para compartilhar com as pessoas do meio profissional.
Por isso, a nossa intenção aqui não é apontar dedos e nem ter respostas prontas sobre o que é certo ou errado, mas apenas levantar a bola da reflexão para continuar a conversa.
E você, tem alguma história de ghosting profissional para compartilhar com a gente? Como vê essa questão?
Conte aqui nos comentários.
Eu poderia emoldurar essa frase
"O mundo profissional é pequeno: o responsável pelo recrutamento de hoje pode se tornar o seu diretor de recursos humanos amanhã. Nesse caso, o ghosting profissional pode se tornar um verdadeiro fantasma a te assombrar depois."
- Malene Rydahl, autora do livro Moi non plus. L’art de répondre et de comprendre les non-réponses à l’ère digitale, em entrevista para o jornal Le Monde.
Radar do Futuro-Presente
Diretamente do SXSW 2023: Inteligência Artificial na área de RH (Meio & Mensagem)
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Mercado: 45% dos brasileiros devem realizar compras no Dia do Consumidor (PropMark)
Uma boa notícia (ou melhor, várias): essa curadoria do @carvalhando.
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