Cenas clássicas: você desbloqueia a tela do celular para checar a previsão do tempo e, quando vê, já está há meia hora nas redes sociais. Ou então, começa a responder alguém no WhatsApp, para por um motivo qualquer e nunca mais volta. Chega ao fim do dia com a sensação de que há várias abas abertas na sua cabeça e nada do que estava planejado foi feito.
Pois você não está só!
A verdade é que, de uns anos pra cá, tem sido cada vez mais difícil se concentrar em uma tarefa. Atividades simples do dia a dia têm se tornado intermináveis simplesmente porque, no meio do caminho, esquecemos o que estávamos fazendo e precisamos recomeçar.
Quem nunca teve dificuldade para terminar de escrever um e-mail porque as notificações do telefone pareciam urgentes e inadiáveis? Pois é, verificamos o celular tantas vezes que nem percebemos. Somos distraídos com memes, fofocas, boatos e discussões de relevância questionável. E entre infinitas notificações, temos perdido o que realmente importa: nossa produtividade e, principalmente, nossa qualidade de vida.
Em tempos em que parece impossível ter foco em tarefas que demandem mais de 3 minutos, queremos convidar você a pensar: para onde está indo sua atenção?
Um país hiperconectado
Se considerarmos que o Brasil tem mais smartphones do que gente - 2,2 dispositivos digitais e 1,2 smartphone por habitante, de acordo com a 34ª edição da Pesquisa Anual do FGVcia sobre o Mercado Brasileiro de TI e Uso nas Empresas - e que passamos mais de três horas, diariamente, em redes sociais, podemos ter alguma ideia do quanto estamos imersos no mundo online. Aliás, a gente nem consegue mais diferenciar o on do off mais, não é mesmo?
Vivemos na era da hiperconexão, na qual nunca foi tão fácil ter acesso aos acontecimentos de qualquer parte do mundo, o tempo todo. Isso significa, também, que somos expostos a uma série de notícias ruins que, além da sensação de impotência, ainda nos despertam ansiedade, tristeza e pessimismo.
O resumo disso é que é mesmo fácil perder a noção do tempo em meio a tantas distrações, com a nossa atenção capturada com cada vez mais frequência. E isso acontece de propósito. Tal como o professor doutor em filosofia do Instituto Federal de Minas Gerais, José Costa Júnior, afirma neste artigo do Nexo Jornal, a busca por capturar e manter a nossa atenção é decisiva para as plataformas que utilizamos, e boa parte dessa estrutura envolve tal intenção.
Em outras palavras, nossa atenção vai se transformando em um objeto de disputa de diferentes empresas, que por sua vez estão em constante desenvolvimento de tecnologias e campanhas de marketing cada vez mais atraentes para capturá-la. E isso, inclusive, tem nome.
Sugestão de documentário: O dilema das redes
The Social Dilemma | Official Trailer | Netflix
*Para quem gosta de documentários (e por algum motivo não assistiu a esse), "O Dilema das Redes", disponível na Netflix, traz informações alarmantes sobre a influência das redes sociais na atualidade. Trazendo depoimentos de executivos e ex-funcionários das gigantes de tecnologia, como Google e Facebook, o documentário mostra como as redes sociais impactam a forma que pensamos, priorizando assuntos que nos interessam e favorecendo a polarização e a disseminação de notícias falsas.
Você já ouviu falar em economia da atenção?
O termo, atribuído ao psicólogo e cientista político Herbert Alexander Simon, nos ajuda a entender a dinâmica das transformações tecnológicas da atualidade, definindo a atenção como um bem escasso e disputado.
Já na década de 1970, Herbert defendia que “a riqueza de informação cria pobreza de atenção, e com ela a necessidade de alocar a atenção de maneira eficiente em meio à abundância de fontes de informação disponíveis.”
Mas por que a nossa atenção é tão valiosa se, na maioria das vezes, não pagamos “nada” para estar online?
Bem, aqui é o momento em que a gente cita aquela famosa frase do jornalista Andrew Lewis que diz que “se você não está pagando por um serviço, então você é o produto”. E ela nos ajuda a entender como funciona o acesso a plataformas gratuitas da internet, que de gratuitas não têm nada.
A real é que, apesar de não pagarmos com dinheiro, nosso tempo, atenção e histórico de navegação geram dados valiosos. Na prática, o que as empresas querem é que seus anúncios sejam mostrados para o maior número de pessoas que possam se interessar por seus produtos e serviços. Ou seja, ao navegar pelas plataformas e redes sociais, mesmo que involuntariamente, deixamos informações importantes para nutrir os anúncios que irão nos impactar, em um ciclo sem fim.
Em resumo: na economia da atenção, as plataformas são feitas, em todos os seus detalhes, para manter as pessoas cada vez mais conectadas. A pergunta que não quer calar é: por que, mesmo sabendo disso, ainda assim somos tão vulneráveis a elas?
Por que as notificações viciam tanto?
É verdade. A maioria de nós acorda e já vai logo pegar no celular. Ao verificar as notificações de diversos aplicativos, o número de interações nas redes sociais ou mesmo os feeds com rolagem infinita, com sugestões igualmente infinitas de vídeos e outras postagens, nosso cérebro libera dopamina, um neurotransmissor que transmite a sensação de prazer e recompensa.
O celular provoca liberação de dopamina o tempo todo. A psiquiatra norte-americana Anna Lembke, autora de Nação Dopamina: Por que o Excesso de Prazer Está Nos Deixando Infelizes e o que Podemos Fazer para Mudar explica como funciona a liberação dessa substância em nosso cérebro.
Conforme a autora, quando usamos uma droga, que aumenta temporariamente o disparo de dopamina bem acima da linha de partida natural, o nosso cérebro deseja retornar ao seu funcionamento normal. Por isso, ele regula a balança novamente, limitando a liberação até um ponto mais baixo, provocando sintomas de abstinência, como ansiedade e depressão.
Neste artigo publicado no G1, a médica psiquiatra Julia Khoury, mestre e doutora em Medicina Molecular pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) argumenta que “quanto mais a pessoa entra em contato com esses estímulos que causam recompensas rápidas e imediatas, maior a tendência de aumentar o comportamento. E aí ela começa a sentir falta quando não está perto do celular".
Além da dificuldade de concentração e da falta da capacidade de lidar com o tédio, a médio e longo prazo, tudo isso começa a ter impacto na nossa saúde e na nossa forma de absorver e processar conhecimento e informações importantes para o nosso dia a dia.
Mais informações do que o nosso cérebro dá conta
O educador, pesquisador e palestrante especializado em processo criativo Charles Watson (quem já fez curso com ele pela CoolHow?) defende que, embora aparentemente estejamos acostumados a receber tantas informações, a maneira como nós assimilamos a informação não é modificada pela tecnologia existente.
Neste episódio do podcast da Semana, da Revista Gama, Watson afirma que o excesso de informações não tem nos deixado mais criativos. Pelo contrário, estamos cada vez menos criativos porque não conseguimos selecionar o que é relevante ou não meio à carga de conteúdos os quais nosso cérebro não dá conta de absorver.
Outra questão importante se relaciona aos mais recentes formatos de mídia que consumimos, como os vídeos em Reels, TikTok e Youtube Shorts, que fazem nosso cérebro liberar ainda mais dopamina. A prova disso é o recente depoimento do cofundador do Youtube, Steve Chen, que fala para os seus filhos não assistirem ao YouTube Shorts.
Leia também: Não aperte minha mente: o excesso de referências e influências em um contexto digital
Pergunta do milhão: como isso impacta minha marca, carreira ou negócio?
Bom, a gente foi falando aqui e acolá de alguns impactos negativos, como despender tempo demais para realizar uma tarefa simples, por exemplo. Mas gostaria de completar com mais alguns:
Procrastinação de atividades e/ou projetos importantes para sua marca, carreira ou negócio;
Cansaço excessivo e sensação de não conseguir relaxar;
Frustração e estresse;
Perda de repertório criativo;
Perda de controle sobre o tempo.
E aí, se reconheceu nessa emboscada?
A questão é que pensar sobre as consequências da tecnologia em nossas vidas é refletir sobre um desafio sem solução simples. Não podemos desconsiderar os benefícios dos avanços da transformação digital.
Os diversos aplicativos que roubam minutos e horas preciosas da nossa atenção também nos trazem informação, serviços e entretenimento que facilitam a nossa vida. Muitos, inclusive, facilitam o nosso trabalho, sendo praticamente cada vez mais impossível viver longe deles.
O jeito é recorrermos ao bom e velho clichê da atenção consciente, observando os nossos hábitos e a forma como consumimos conteúdo e nos relacionamos com os nossos dispositivos digitais. Que recompensa buscamos? O que estamos querendo ao rolar o feed desta ou daquela rede social? Eu preciso fazer isso agora? Que outra atividade pode ser tão prazerosa quanto essa? Consigo limitar o meu tempo online?
Pensando sobre o cenário corporativo atual, onde a competitividade nos demanda constante atualização de habilidades e conhecimentos, como direcionar o foco para o nosso processo de aprendizagem? O que fazer? Como acessar conteúdos que tenham credibilidade e que realmente nos ajudem a evoluir? Como as empresas podem envolver e engajar os seus colaboradores?
Talvez você não tenha essas respostas, mas a gente pode te ajudar. Aqui na CoolHow, fazemos curadoria de conteúdo para empresas de diversos segmentos. Com esse conteúdo em mãos, desenvolvemos experiências de aprendizagem corporativas que facilitam a retenção da atenção e impactam positivamente as equipes. Afinal, a gente acredita que sim, é possível utilizar os benefícios da tecnologia de maneira equilibrada, facilitando o aprendizado e promovendo o engajamento das pessoas.
Para emoldurar e colocar na parede
“O que poderia ser o recurso mais escasso e mais valioso em uma época marcada pelo excesso de informação? Parece que não há dúvidas de que o que todo mundo mais deseja e o que é sempre sentido como escasso é a atenção.”
Luciana Vieira Caliman, professora e pesquisadora em Psicologia
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Muito real essa afirmação que o excesso de consumo de conteúdo não está nos deixando mais criativos. Afinal falta espaço para respiros. Acabamos por não digerir / refletir sobre todo esse conteúdo, vamos apenas consumindo, consumindo, consumindo.... e, na maioria das vezes, sem a atenção devida. A minha atenção foi para o ralo faz tempo.