Trabalhos de garota preguiçosa. Será? Conheça o #lazygirljobs
Nos últimos anos, a gente vem presenciando uma série de movimentos no mundo do trabalho que sinalizam, com maestria, as reivindicações do nosso tempo. Do “great resignation” ou “a grande renúncia”, que resume os altos índices de demissão voluntária no mercado, ao “quiet quitting”, ou “demissão silenciosa” que representa aquele grupo de profissionais que se dispõem a trabalhar o mínimo necessário. Há sempre um movimento novo para acompanhar e entender.
Agora, mais recentemente, um novo termo tem “hitado” no TikTok e deixado o mundo corporativo de orelha em pé: o “lazy girl jobs”, já ouviu? Pois continua com a gente que é sobre isso que vamos falar na CoolBox de hoje.
Com garotas mas nem só para elas: a origem do termo
Tudo começa com uma jovem de 26 anos que, após ter o emprego dos sonhos e se ver completamente absorvida por ele, chega à conclusão de que não é isso o que quer para sua vida e decide empreender criando a empresa para a qual gostaria de trabalhar.
O roteiro não é assim tão novo, mas foi o que aconteceu com a norte-americana Gabrielle Judge, que utilizou o termo #lazygirljobs para nomear o seu trabalho e estimular outras pessoas a buscarem empregos que, em um mesmo combo, reúnam flexibilidade, remuneração justa e uma reduzida carga de estresse.
Em entrevista à Exame, Gabrielle explicou que não se trata de regras impostas, mas de uma mentalidade que possibilite com que cada pessoa descubra o seu próprio ponto de equilíbrio entre vida profissional e pessoal.
Ela também explicou que colocou a palavra “girl” no meio porque a maior parte do seu público é composta por mulheres, mas que o movimento pode se moldar a qualquer pessoa.
The lazy girl job trend is about focusing on what matters. Employers u... | TikTok
Contudo…
Ao mesmo tempo, a utilização da palavra garota é justificada por outras defensoras do movimento. Em um depoimento para a revista Harper's Bazaar, a escritora Emma Gannon argumenta que o “Lazy Girl Jobs” também representa uma forma de contestação ao conceito de “Girl Boss” e à cultura que exige que as mulheres desempenhem múltiplos papéis ou coloquem a carreira no centro de suas vidas.
Já neste artigo da Forbes, a autora best seller Eliza VanCorten sugere que a referência às garotas também é uma resposta à desilusão. Segundo ela, as mulheres mais jovens já entenderam o quanto é difícil ser mulher na nossa sociedade, fazendo a mesma quantidade de trabalho e obtendo menos retorno do que os homens em seu investimento na carreira. Como resultado, muitas delas simplesmente têm optado por não participar de um sistema que é inerentemente injusto. Ou seja, estão #exaustas.
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Não é preguiça, é limite
A palavra “lazy”, neste caso, também é sarcasticamente utilizada para se referir a uma geração vista como preguiçosa. No entanto, a mentalidade em questão está muito mais relacionada ao equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional do que à preguiça propriamente dita.
Em outras palavras, boa parte da geração Z não está mais comprando a expectativa de trabalho 24/7, priorizando a sua saúde física e mental. É como se essas pessoas tivessem tentando estabelecer novos limites em um sistema de trabalho no qual entregar mais do que o esperado se tornou a norma.
Outro ponto importante é que estamos nos referindo a uma geração que cresceu hiperconectada e que já ingressa no mercado de trabalho ansiosa. De acordo com um estudo anual desenvolvido pela Deloitte, 46% das pessoas da geração Z entrevistadas se sentem estressadas ou ansiosas durante todo ou a maior parte do tempo.
Uma geração que, ainda por cima, não pode contar com os melhores exemplos daquela que a precedeu, a Millennial, que mirou ativamente na realização profissional e de seus sonhos, mas acabou acertando no burnout e na vulnerabilidade emocional.
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Pergunta do milhão: como isso impacta minha marca, carreira ou negócio?
Pode ser que estejamos falando de mais uma trend passageira e que, não podemos ignorar, também parte de camadas mais privilegiadas da sociedade. Afinal, a gente sabe muito bem que nem todas as pessoas terão a mesma liberdade de escolha ou vão optar por um “trabalho preguiçoso” em suas vidas.
Mas é importante a gente prestar atenção nesses movimentos e em como eles viralizam e ganham força e atenção midiática não pelo que eles são em si, mas pelos sinais que trazem consigo.
Nesse caso, estamos falando de uma geração que cresceu sem conhecer os reais limites entre o on e o offline e agora tenta se livrar da cultura sempre on. Que enfrenta os resquícios da relação com o trabalho que os millennials foram aprendendo a desenvolver e entendeu que a frase apropriada é “faça o que você ama e nunca mais vai parar de trabalhar na vida”.
São tempos difíceis para os empregadores e isso não é ruim. É preciso se apropriar desses sinais e desenvolver, a partir deles, a autoanálise necessária para repensar políticas e práticas de trabalho. Uma boa escuta pode sim levar ao planejamento de novas dinâmicas que incluam horários mais flexíveis, mais oportunidades de trabalho remoto e um maior respeito pelo descanso e tempo pessoal de cada um.
É prestando atenção à emergência dessas novas mentalidades que teremos o potencial de desencadear mudanças significativas na forma como o trabalho é percebido e estruturado, encontrando o equilíbrio entre os objetivos dos negócios e as expectativas de quem contribui para que eles prosperem. Até porque, no fim das contas, está tudo conectado.
Se precisar de ajuda para algum diagnóstico nesse sentido e/ou pensar soluções em conjunto, você já sabe: conte com a gente!
Eu poderia emoldurar essa frase
“A expressão ‘trabalho de menina preguiçosa’ não é nada ideal – priorizar sua saúde mental e integração entre vida profissional e pessoal NÃO é preguiçoso.”
Eliza VanCort, escritora, em depoimento para a Forbes
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