Nem digitais, nem artificiais: ser humano é aprender
Nas últimas edições da CoolBox, conversamos e refletimos muito aqui sobre as tendências que observamos no SxSW Edu 2024. Como disse Leticia Cavagnaro, uma das palestrantes do evento, sem reflexão, não há aprendizado. E é necessário refletir em 3D: com o raciocínio, o sentimento e o corpo. Por isso, foi tão importante seguir esse caminho, trazendo cada um dos temas, suas questões, aplicações e implicações. Além disso, a educação não é um território a ser debatido uma vez por ano, e muito menos apenas em festivais e conferências. Educação é assunto da mesa de café da manhã, do elevador, da reunião da diretoria. É para ser sentido e vivenciado. Até porque é um assunto essencial e urgente para o tempo em que vivemos.
Não queremos causar pânico, no entanto, precisamos admitir que os desafios que temos pela frente são de uma magnitude nunca vista antes. Estamos falando de emergência climática e de inteligência artificial, para citar apenas dois dos mais importantes. Enquanto o planeta aguarda por respostas urgentes para garantir nosso futuro aqui, a inteligência artificial avança em desenvolvimento e aplicações. E o que os dois temas têm em comum, além da urgência? As respostas para eles passam pela educação. Para eles e para todos os outros desafios e dilemas que surgem todos os dias. Num contexto de mudança, aprender é fundamental para nós, seres humanos, a ponto da frase de Descartes poder ser modificada: aprendo, logo existo.
Outro dia, assisti a um filme sobre educação chamado "Sala dos Professores", que recomendo. Mas não queria falar do filme em si, e sim da necessidade que ele despertou em mim e nas outras pessoas de ter uma boa conversa após a sessão. A CoolBox de hoje é como uma boa conversa após uma sessão de conteúdos que tivemos nas últimas edições. Para fechar esse ciclo e abrir um próximo. Vamos?
Nem digitais, nem artificiais
Vamos mesmo competir com a inteligência artificial? Será que é isso que nos cabe? Nós, da CoolHow, achamos que não. E estamos na boa companhia de outras pessoas das ciências, educadoras e ativistas por uma inteligência artificial centrada no humano. A hipótese que mais combina com o futuro que gostaríamos de criar é que essa tecnologia vai nos ajudar a compreender quais são as competências humanas que importam para nos dedicarmos a elas no nosso trabalho e vai nos libertar daquele trabalho que atenta contra a nossa qualidade de vida. Aliás, queremos que a inteligência artificial tenha essa grande finalidade: ser alavanca da nossa qualidade de vida.
Então, qual é o lugar da inteligência artificial e qual é o nosso lugar? De acordo com Kai-Fu Lee, citado por Beth Rudden durante palestra no SxSW Edu, o trabalho essencialmente humano envolve a necessidade de cuidado (afeto + compaixão) e onde for preciso criatividade e pensamento estratégico complexo. A combinação desses elementos cria um espaço em que a IA pode até nos ajudar, mas não nos substituir, pelo menos no horizonte previsível.
Por isso, algumas duplas de competências são muito bem-vindas:
curiosidade + criatividade
inteligência emocional + compaixão
pensamento crítico + resolução de problemas
flexibilidade + adaptabilidade
colaboração + inteligência coletiva
letramento digital + letramento em IA
Resumindo: a IA não vai ocupar nosso lugar se não ficarmos no lugar que faz mais sentido para ela. Ou seja, atividades repetitivas, otimizadas e sem a necessidade do toque humano. Mas precisamos aprender a dialogar com a IA, para que ela nos apoie e potencialize nosso trabalho.
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As máquinas aprendem com dados; nós, com as nossas emoções.
Já dissemos aqui que somos do time de bell hooks, para quem amor não é apenas um sentimento: é ação. E a base da educação é o próprio amor, uma combinação de cuidado, compromisso, conhecimento, responsabilidade, respeito e confiança. A própria neurociência, conforme demonstra lindamente o livro "How People Learn", já tem provas de que a emoção é a base da nossa aprendizagem. E há quem ainda acredite que são as informações ou os dados. Sabe quem precisa só de dados para aprender? A inteligência artificial. Nós precisamos de experiências de aprendizagem.
Se você ainda não tinha entendido, agora deve ter ficado mais evidente por que falamos tanto sobre esse tema aqui, não apenas nas últimas edições. Por isso, a definição do nosso trabalho é design de experiências de aprendizagem. Porque para aumentar a chance das pessoas aprenderem efetivamente, é preciso intencionalidade no design das experiências. Para que a aprendizagem se torne competência, motivação e comportamento que se convertam em ação e transformação. Para as próprias pessoas, para os negócios, para o planeta. Quem se lembrou do manifesto da CoolHow, ganha aqui uma estrela.
Não por acaso, no SxSW Edu, além da inteligência artificial, falou-se muito sobre o design de experiências e o cuidado com o acolhimento de pessoas de grupos subrepresentados — negros, indígenas, neurodiversos, pessoas trans etc.
Leia também: Aprendizagem baseada em design
Pessoas aprendem. Máquinas aprendem. Empresas também.
Acreditamos no poder do design de experiências de aprendizagem não só pela teoria, mas também pela prática. Já são centenas de produtos educacionais desenhados por nós, para empresas, nos últimos treze anos que seguem esses princípios. Não é exagero dizer que milhares e milhares de pessoas, literalmente, já passaram por experiências criadas ou criadas e facilitadas por nós. E um dado para nos orgulhar são as avaliações que, muitas vezes, trazem uma expressão: experiência memorável.
Por isso, na nossa metodologia de design de aprendizagem, a interseção entre pessoa, empresa e planeta é tão importante. Quem acompanhou o Festival de Conteúdo LxD sabe.
Qualquer empresa que quiser se tornar ou continuar relevante no presente-futuro precisa se tornar uma empresa que aprende. Tem um minuto para a palavra das Learning Companies?
As "learning companies" são aquelas empresas que fazem do aprendizado o seu superpoder. Ao invés de ficarem presas em como as coisas sempre foram feitas, elas estão sempre de olho nas tendências, transformando-as em oportunidades e adaptando sua visão de futuro. O que as torna tão especiais no jogo do mercado é essa capacidade de estar sempre evoluindo e aplicando novas ideias de forma que todos e todas saiam ganhando, inclusive clientes.
É por essa razão que um dos nossos mantras na CoolHow é: não há cultura de inovação sem cultura de aprendizagem. Quem leu a CoolBox da semana passada já sabia.
Por falar em evolução, chama o Darwin.
Já citamos Descartes, agora vamos finalizar hackeando o pensamento de Darwin: não são os mais fortes nem os mais adaptáveis que avançam na evolução, são os que mais aprendem.
Pergunta do milhão: como isso impacta minha marca, carreira ou negócio?
Hoje, no clima de reflexão, vamos devolver a pergunta pra você. Já parou para pensar qual o impacto desses temas na sua realidade? Guarde alguns minutos antes de fechar este e-mail e seguir para a próxima tarefa para responder a esta pergunta:
Considerando todos os desafios, tecnologias e temas emergentes que já dão sinais no presente, o que você e sua empresa precisam aprender hoje para criar um futuro desejável?
Se precisar de ajuda, chama a gente. Já sabe que essa é a nossa especialidade, não é?
Para emoldurar e colocar na parede
“As duas melhores coisas que podemos fazer em tempos de incertezas e de grandes mudanças são ensinar e aprender.”
Tiago Belotte, fundador da CoolHow
Radar do Futuro-Presente
A I.A. aumentará a produtividade? As empresas certamente esperam que sim. (New York Times, em inglês)
Gina Vieira: “A educação antes de tudo é um processo de humanização” (Revista Gama)
Mais de mil livros: SC ganha biblioteca dedicada a autores negros. (UOL Ecoa)
Conheça a GenGen, a geração que irá criar o nosso futuro. (Fast Company Brasil)
A matriz Humanos & Inteligência Artificial (Tiago Belotte no Instagram)
Ei, queremos te ouvir!
Você tem um minutinho para dar o seu feedback sobre a CoolBox? Também estamos aceitando sugestões: quais temas você gostaria de ver por aqui?